sexta-feira, 27 de março de 2009

Caminhos cruzados: Casão, Ronaldo e o Corinthians


por Felipe Carrilho


A vida, às vezes, é capaz de apresentar coincidências históricas incríveis, que podem até fazer duvidar de sua total casualidade e despropósito. De certo, não existe racionalidade na história, estando tal atributo localizado no discurso histórico, na maneira como os homens apreendem o passar do tempo. São os homens, portanto, que conferem sentido aos séculos, "enxergando" as coincidências históricas.

Walter Casagrande Júnior, o nosso Casão, captou, no ar, a beleza do momento pelo qual passamos, os corintianos:

"Minha história e a do Corinthians tem uma ligação forte. E coincidiu de o Corinthians cair para Série B e eu ter problemas, com os dois se recuperando quase ao mesmo tempo. É lógico que não dá pra comparar uma coisa com a outra, mas são situações que se cruzam".

E Casão foi além, ao comentar a vinda ao clube daquele que, hoje, enverga a camisa 9 do Timão, que outrora fora sua, Ronaldo:

"Tanto o Corinthians merece ter um jogador como o Ronaldo, quanto o Ronaldo merece jogar no Corinthians. O Corinthians tem uma coisa especial e o Ronaldo também é um jogador especial. Ele teve problemas, ficou desacreditado. Então, não tem lugar melhor para ele se recuperar do que um clube como Corinthians".

Os percursos de Casão, Ronaldo e do Corinthians se conjugam atualmente numa poesia histórica (para quem quer enxergar). E Casão, assim, como Ronaldo, e o próprio Corinthinas se levantam novamente:

"A recuperação do Corinthians está igual a minha: aos poucos vai voltando ao lugar que merece. Mesmo caindo para série B, o Corinthians é o Corinthians. As pessoas olham para o clube e respeitam. Meu caso é mesma coisa: o que eu fiz, o que eu fui e sou, não tem como apagar. O que aconteceu comigo foi um retrocesso, uma queda para a segunda divisão da vida. Mas eu voltei. Ou melhor, estou voltando aos poucos, adquirindo respeito novamente".


Volta, Casão, você está na história do Timão!

quarta-feira, 25 de março de 2009

A tragédia do Brasil

por Renato Godoy


Somente aqueles que passaram por um rebaixamento conhecem a dor que ele proporciona. Agora, nenhum torcedor pode mensurar o sofrimento que o ano de 2009 reservou para a torcida do Brasil de Pelotas, tradicional e quase centenário clube do Rio Grande do Sul.
Após um ano que renovou as esperanças do clube, que garantiu a permanência na nova terceira divisão nacional, o torcedor do Brasil teve que lidar com a morte de dois atletas e um preparador de goleiros, após um acidente com o ônibus da equipe em fevereiro. Sem deixar de prestar condolências ao zagueiro Régis e ao preparador Giovani Guimarães, a torcida do clube demonstrou a dor da perda de seu maior ídolo, o atacante uruguaio Cláudio Millar. Ao comemorar seus gols, Millar encarnava o índio Xavante, símbolo do clube, atirando uma flecha imaginária em direção à torcida.
As equipes gaúchas e as federações de futebol mostraram-se solidárias ao clube de Pelotas. Os cartolas do Rio Grande do Sul ofereceram um tempo maior para o Brasil, que cogitou inclusive não participar do Gauchão 2009, que teve início dias após a tragédia. Alguns clubes emprestaram jogadores gratuitamente.
Para honrar os seus mortos, a equipe tomou a decisão de participar do campeonato – estreando apenas na 5ª rodada e encarando um calendário intenso, com 8 jogos em 16 dias. Tal decisão demonstrou a fibra do elenco e de sua torcida, que encorajou tal atitude.
Porém, nem só de posturas firmes e honrosas vivem o futebol. Dentro de campo, não se pode esperar do adversário o respeito ao luto alheio. E os adversários do Brasil foram implacáveis.
A equipe sofreu com problemas psicológicos, técnicos e físicos – 5 atletas ainda não se recuperaram do acidente, tal como o treinador Armando Desessards. O clube que vinha de uma boa campanha na Série C – ficando próximo do acesso à Série B – não resistiu.
Sem vencer uma partida sequer, o Xavante foi rebaixado e disputará a segunda divisão do gauchão em 2010.

Honra ao ídolo
Um momento dolorido e simbólico ocorreu na derrota do Xavante para a Ulbra, por 5 a 2, em Pelotas. No último gol do visitante, o atacante Rogério Pereira, em tom de escárnio, foi à torcida Xavante e, de acordo com os jogadores do time da casa, imitou o gesto de Millar, em pleno Estádio Bento Ribeiro, cancha onde o atacante uruguaio consagrou-se. A resposta dos companheiros do falecido jogador não poderia ser diferente. Liderados pelo goleiro Danrlei, partiram para o confronto físico. A racionalidade da justiça desportiva puniu três atletas do Brasil por terem honrado a memória de Cláudio Millar.

terça-feira, 24 de março de 2009

Jornalismo esportivo covarde ou imprudente?

por Felipe Carrilho

O Estadão publicou na edição de domingo (22/03) uma entrevista de Ronaldo, assinada pelo jornalista Daniel Piza. O texto de introdução da matéria começa assim:

"'Estou adorando'. Ronaldo repetiu a frase algumas vezes, durante a entrevista concedida (...)".

Depois, o jornalista frisa, reiteradamente, a atual felicidade do Fenômeno, atribuindo-a, entre outros fatores, ao bom relacionamento que o jogador conseguiu estabelecer com os seus companheiros de clube.

No final, porém, arremata:
"Seu objetivo é fazer uma temporada inteira de 30 jogos (...). Para isso, um recado aos colegas de equipe: lançar em profundidade. Ele está decidido a continuar 'adorando'". (Grifos meus)

Insinuação "jornalística" covarde, aludindo ao incidente com os travestis, ou pura imprudência negligente? O leitor que decida.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Ponderações corintianas sobre o clássico contra o Santos

por Felipe Carrilho

Mano Menezes
O técnico venceu finalmente o seu primeiro clássico, após quase um ano e meio à frente do clube do Parque São Jorge. O êxito se deveu não apenas à fragilidade do time do Santos frente aos outros grandes paulistas, mas também à coragem demonstrada pelo treinador corintiano na montagem ofensiva do esquema tático, escalando também jogadores mais leves e habilidosos.


Perspectivas corintianas
Hoje, o torcedor do Corinthians já pode sonhar com o título paulista. Com uma base sólida, de jogadores do ano passado, que permaneceu no clube e um esquema tático amadurecido, o Timão segue como forte candidato. Mas, o que parece confirmar este palpite, é a possibilidade de que, no quadrangular final, Douglas, Morais, Dentinho e, claro, Ronaldo estejam finalmente em boa forma física. Este quarteto ofensivo corintiano não deverá nada a ninguém.

Dentinho

O camisa 31 do Corinthians, muito melhor do que o seu concorrente de posição, Jorge Henrique, foi o grande destaque do clássico e deve permanecer como titular.

Marcelo Teixeira
O presidente do Santos não demonstrou o equilíbrio emocional necessário a um dirigente de futebol profissional. Apesar de o Corinthians, assim como o São Paulo outrora, ter rompido a tradição de dividir igualmente o espaço das arquibancadas para as duas torcidas adversárias, Marcelo Teixeira não tinha o direito de incitar a violência entre os torcedores.

quinta-feira, 19 de março de 2009

De novo, a hora de Mano


Por Renato Godoy



Mais uma vez Mano Menezes chega a um clássico com a obrigação de vencer. Nos maiores confrontos do ano, repetiu a postura tímida dos clássicos do ano passado. Ao menos conseguiu sair com dois empates – com até certo gosto de vitória.
A verdade é que o comandante corinthiano precisa mostrar uma audácia que o cacife para ser o técnico do centenário do clube de Parque São Jorge. Título este que deve ser almejado pela maioria dos principais treinadores do país.
Tirante os clássicos, Mano tem histórico acima da média no Corinthians. Mas os números podem mentir. Para o corinthiano o assunto ainda dói. Mas, vale lembrar, que no ano de 2008 a maioria dos adversários do Timão eram da série B. A título de ilustração, coloco abaixo os jogos que o treinador corinthiano disputou contra times pertencentes à Série A:

2008
27/01 Corinthians 0 x 0 São Paulo
20/02 Corinthians 1 x 0 Portuguesa
02/03 Corinthians 0 x 1 Palmeiras
26/03 Santos 2 x 1 Corinthians
16/04 Goiás 3 x 1 Corinthians
30/04 Corinthians 4 x 0 Goiás
20/05 Botafogo 2 x 1 Corinthians
28/05 Corinthians 2 x 1 Botafogo
04/06 Corinthians 3 x 1 Sport
11/06 Sport 2 x 0 Corinthians

2009
22/01 Corinthians 2 x 2 Barueri
15/02 São Paulo 1 x 1 Corinthians
08/03 Palmeiras 1 x 1 Corinthians
15/03 Santo André 0 x 0 Corinthians

Apenas 4 vitórias em 14 jogos. Sendo que todos esses êxitos foram em casa. Neste ano, nenhuma vitória, mas também nenhuma derrota. Nos jogos da Copa do Brasil, todas as vitórias em casa foram “retribuídas” com derrotas nos campos adversários. Uma das 4 vitórias, diga-se, foi contra a Portuguesa, que meses depois voltou à série B.
Por essa ótica, o desempenho de Mano está muito aquém do esperado. Afinal, o campeonato deste ano, felizmente, será o da primeira divisão. Outro fator a perturbar Mano Menezes é o fato de a equipe ter vencido jogos apenas contra aqueles que frequentam as partes menos nobres da tabela do Paulistão. O adversário melhor posicionado que o Corinthians venceu foi o São Caetano, que ocupa a 9ª colocação.
É verdade que o Corinthians é o único time paulista invicto na temporada, mas, convenhamos, está longe de convencer a Fiel.
Domingo
Com o perdão da obviedade, acredito que o Santos deve ser um adversário duro para o Corinthians. A obrigação de vencer está em ambos os lados. Já que, principalmente no caso do time do litoral, a classificação para a próxima fase não está consolidada. Analisando o lado que me interessa, as prováveis ausências de Chicão e Elias são preocupantes. Conforme já foi dito aqui, a escalação de Túlio em clássicos é uma temeridade, dado o desequilíbrio do volante. Escudero seria um risco ainda maior, já que o defensor argentino parece continuar na sua busca incessante pela primeira expulsão no futebol brasileiro. Ainda que seu último cartão tenha sido aplicado mais pela sua fama do que pela infração em si. Na eventual ausência de Chicão, aponto como melhor opção o jovem Diego. Por fim, se Ronaldo for implacável como de costume, Dentinho atuar como no último jogo o Santos sofrerá para segurar o ataque do alvinegro da capital. Mano Menezes tem grandes chances de sair vitorioso de um clássico pela primeira vez. Mas para isso é preciso ousadia. E ela tem de partir do comando técnico.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Charge da semana


por Ronaldo Santanielli

Nem São Paulo, nem Palmeiras: Santos!

por Felipe Carrilho

Em meio à polêmica lançada neste blog, no texto abaixo, sobre se São Paulo ou Palmeiras deveriam dividir com o Corinthians o maior clássico do estado, o jornalista Celso Unzelte publicou na edição desta segunda-feira (16/03), do Jornal Diário do Comércio, uma matéria que diz muito a respeito.

O texto trata, em linhas gerais, da história do confronto entre o Corinthians e o Santos, apontando, claro, Pelé como o grande protagonista do clássico. Apesar da superioridade corintiana no panorama geral do embate, a matéria ressalta os impressionantes números do camisa 10 santista:

"Pelé enfrentou o Corinthians vestindo a camisa do Santos 50 vezes e marcou 50 gols. Exatamente um gol, em média, por partida. Com ele em campo, o Santos ganhou 24 clássicos (48%), empatou 17 (34%) e o Corinthians ganhou nove (18%)".

Mas, o que interessa aqui para a atual polêmica do blog é a seguinte declaração dada por Pelé, no ano passado, e relembrada na matéria por Celso Unzelte:

"Corinthians e Santos fazem o maior clássico do mundo."
Salve, Rei!

sábado, 14 de março de 2009

O maior clássico paulista

por Felipe Carrilho

Nos últimos tempos, tenho ouvido muitas pessoas dizerem que a rivalidade entre o Corinthians e o São Paulo é hoje a maior de estado, superando, inclusive as emoções despertadas pelo confronto entre o Timão e o Palmeiras.

Tal afirmação é, no mínimo, controversa. Do ponto de vista histórico, não tenho dúvidas de que tanto a longevidade dos times dos parques São Jorge e Antártica, quanto as suas trajetórias inicialmente coincidentes – o Palestra originando-se de uma dissidência corintiana – além da identificação de seus torcedores com as classes subalternas de nossa sociedade garantem, de fato, uma supremacia ao clássico na tradição dos confrontos entre os grandes clubes de estado de São Paulo. Neste caso, a rivalidade se intensificaria pela semelhança dos oponentes.

Além disso, não podemos nos esquecer de que a questão levantada aqui é a de apontar qual seria o confronto futebolístico mais representativo do estado. Se pensarmos na polêmica gerada pelo recente episódio da destinação de apenas uma pequena quantia de ingressos para a torcida do Corinthians no último clássico contra o time do Morumbi, por parte da diretoria do São Paulo, constataremos, certamente, um grande acirramento da rivalidade entre as torcidas de ambos os clubes. Mas, não sei se um acontecimento pontual, como este, seria suficiente para demonstrar a preponderância do confronto, dito majestoso.

Lendo, na internet, uma pesquisa que apontava os 10 maiores clássicos do futebol mundial, fui surpreendido ao constatar, encabeçando a lista, o embate escocês(!) Celtics versus Rangers. Onde estariam os grandes confrontos de clubes italianos, alemães, argentinos, ou mesmo brasileiros?

Analisando com mais calma, porém, percebi que o que justificava a colocação privilegiada de tal jogo era, na verdade, uma querela religiosa que perpassava o embate entre os dois times, desde as suas primeiras partidas. O Celtics fora fundado por padres católicos, que quiseram homenagear os irlandeses que moravam no leste de Glasgow, enquanto o Rangers tinha sido instituído por protestantes. Daí a extrema rivalidade que resultava tanto das paixões futebolísticas, quanto das religiosas, conjugadas.

Esta curiosidade me fez repensar o caso das rivalidades paulistas. Talvez Corinthians versus São Paulo seja hoje, para a ira de palmeirenses, o maior clássico do estado mesmo. Se, por um lado, os tricolores estão aquém do Palmeiras em relação à duração histórica de sua participação nos grandes jogos da cidade, por outro lado, o embate entre o Corinthians e o São Paulo é um clássico que, no imaginário, se reveste de um caráter classista, opondo simbolicamente pobres e ricos, povo e elite.

Tendo a admitir, portanto, que a ideia de luta de classes, sugeria pelo jogo, justifica a ascensão do São Paulo à categoria de clube participante do maior clássico paulista, suplantando o Palmeiras. Assim como no caso escocês, os motivos que explicam a grandeza do confronto se localizam para além das quatro linhas e acirram a rivalidade pela diferença, ou, no caso brasileiro, pelo antagonismo. Mas, não posso deixar de notar quão tortuosos e elitistas são os caminhos de glória tricolores.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Corinthians de Ronaldo, ou Ronaldo do Corinthians?

por Renato Godoy

Com o gol de cabeça que salvou o Corinthians de uma derrota para o maior rival, Ronaldo voltou às manchetes por sua atuação dentro de campo. Com isso, os meios de comunicação trataram de reeditar a “Ronaldomania”, termo quase esdrúxulo cunhado por alguns comentaristas na fase áurea do jogador.

Foi nesse clima que boa parte da torcida compareceu ao Pacaembu para ver o Fenômeno pela primeira vez na casa do Corinthians. É inegável que, para além do jogo do Corinthians, o principal atrativo era o camisa 9. No entanto, colocar a importância do craque sobre o Corinthians, não corresponde com a atitude usual que esta torcida adota: apoiar o time antes de qualquer coisa.

De onde assisti o jogo, na arquibancada laranja, pude observar um interessante “duelo”. Quando o placar passou a anunciar a escalação, as organizadas passaram a gritar mais forte (“Corinthians, Corinthians”), prevendo a reação que o restante do estádio teria com o nome de Ronaldo proferido pelo serviço de som do Paulo Machado de Carvalho. Em vão. O estádio veio abaixo quando o rosto do camisa 9 foi estampado no telão.

Quanto a isso, creio que seja uma reação natural e válida, já que há anos não tínhamos uma contratação desta importância. Ronaldo, não há como negar, é um ídolo nacional. Mas o que considerei um equívoco foi a ânsia com que a torcida do setor xingava jogadores que não passavam a bola para o atacante célebre. Mesmo quando não havia condições de realizar um passe para ele. “Toca pra ele, 6!”, dizia um que não conhecia o nosso volante Christian.

E o time, ao que me parece, cedia a essa histeria, direcionando a bola ao atacante a todo o tempo na primeira etapa.

Soma-se a isso a intolerância de boa parte da torcida com relação a Douglas, que ainda sofre as consequências da fome em Itumbiara. Mas cornetar o camisa 10 é um comportamento injusto e nefasto já que o meia corinthiano vem apresentando lampejos daquele futebol do ano passado. Douglas tem talento e sabe chutar, como já demonstrou, portanto não cabe a ele o mero papel de garçom, como querem alguns. Espero que as poucas vaias não o inibam.

Outro fator que me causou estranheza foi a presença de pessoas com camisetas de clubes em que Ronaldo atuou como Milan de Berlusconi e o Real Madrid dos franquistas, equipes sem qualquer identificação com o Corinthians.

Enfim, o jogo
Antes de completar um minuto de partida, a bola chegou aos pés de Ronaldo que chutou forte da entrada da grande área. O goleiro Luís espalmou. Parecia que seria uma noite infernal de Ronaldo. Entretanto, o atacante perdeu algumas bolas e desperdiçou um gol, como não é de seu feitio.

Aos 7 minutos, em tabela com André Santos, Ronaldo ficou livre para marcar. “Agora ele dá aquela cavadinha e pronto”, pensei. Nada. Chute fraco e rasteiro nas mãos do arqueiro do São Caetano. Como de costume, a equipe do ABC começou a dar trabalho ao Corinthians e tomou as rédeas do jogo. Até que aos 21, Marcelo cabeceou para dentro da meta do instável Felipe.

A torcida fez aquilo que impressionara Ronaldo contra o Palmeiras, segundo o próprio: gritou ainda mais forte na adversidade. Aos 35, André Santos, contrariando alguns torcedores, não passou a bola para Ronaldo, mas arriscou de fora da área, anotando o gol mais bonito da chuvosa noite no Pacaembu. Com o tento, o lateral se redimiu da partida pífia que vinha fazendo.

O São Caetano continuava melhor que o Corinthians. Felizmente veio o intervalo. Com Dentinho no lugar de Boquita, o Corinthians voltou melhor. Aos 5 minutos, Ronaldo, do Corinthians, mostrou que não precisa estar em forma para ser decisivo. Em bola difícil, tocou de primeira para a rede. Para ele pareceu fácil.

O atacante ainda propiciou momentos de deleite para a Fiel. Com técnica acima da média do futebol brasileiro, o atacante humilhou um defensor do São Caetano no meio-de-campo e, melhor ainda, encerrou a jogada com um belo lançamento para Jorge Henrique. Ronaldo saiu aos 30 do segundo tempo, surpreendendo aqueles que esperavam apenas 45 minutos de Fenômeno. Foi aplaudido efusivamente por todos os setores do estádio. Por ser quem ele é e por ter virado o jogo para o Corinthians.

terça-feira, 10 de março de 2009

Charge da semana


por Ronaldo Santanielli, artista responsável pelo visual deste blog

segunda-feira, 9 de março de 2009

A magia romântica de Ronaldo

por Felipe Carrilho




Um dos gols de Ronaldo que mais me impressionou foi o que ele converteu na copa de 2006, contra a seleção de Gana. O jogador foi lançado pelo meio da defesa, avançou sozinho e, quando estava cara a cara com o goleiro, pedalou com a perna direita, mas com a esquerda limpou o arqueiro e empurrou para as redes.

Num primeiro momento, parece não haver nada de tão especial no lance descrito. No auge de sua carreira, Ronaldo protagonizou jogadas aparentemente mais geniais, como aquele gol da época em que atuava pelo Barcelona, quando arrancou do meio de campo driblando meio time adversário.
O que chamou a minha atenção, porém, foram as circunstâncias em que Ronaldo realizou a jogada contra os ganenses, além, claro, da plasticidade do drible. Visivelmente fora de forma no mundial, o jogador, ainda assim, foi responsável por boa parte dos poucos momentos de brilho daquela desastrada seleção. Com alguns quilos acima de seu peso ideal, sem a agilidade e a velocidade costumeiras, mesmo assim Ronaldo aplicou um drible mágico no goleiro.

Se definirmos magia como qualquer procedimento ou efeito que pareça inexplicável ou fantástico, entenderemos melhor a beleza da jogada em questão. No momento da definição do lance, não apenas a perna destra de Ronaldo pedala para a direita, mas todo o seu corpo pedala junto, ou quase todo, pois a perna esquerda, escamoteada, já está levando a bola para o outro lado, de maneira quase imperceptível, num movimento ilusório, inexplicável, mágico. Qualquer outro goleiro ficaria como ficou o de Gana, caído sentado.

A atuação de Ronaldo no clássico de domingo entre Palmeiras e Corinthians me fez lembrar desse lance. Ainda mais pesado do que há três anos, e sem ritmo de jogo, o Fenômeno só não fez chover, na escaldante Presidente Prudente. Correu, driblou, meteu um "canudo" na trave e fez o gol do empate do Corinthians aos 47 do segundo tempo. As cenas do atacante com os torcedores corintianos derrubando o alambrado são emocionantes e ilustram muito bem a grandiosidade do acontecimento.

Ronaldo foi mágico nesse jogo. Mas, apesar do gol e de sua comemoração, o lance de maior magia, para mim, se deu numa jogada pela ponta esquerda corintiana: Ronaldo está com a bola protegida, em direção contrária ao ataque, com um zagueiro palmeirense em seu calcanhar. Com o corpo inclinado para frente, Ronaldo puxa a bola para trás e gira, deixando o defensor alviverde em desvantagem na corrida. Ele avança e cruza na medida para André Santos cabecear, e o goleiro Bruno fazer uma bela defesa.

Como pôde Ronaldo, estando bastante acima do peso, sem ritmo de jogo e longe de sua velocidade habitual ter aplicado um drible simples como aquele, chegando na frente do zagueiro na jogada? Se Souza, por exemplo, tentasse a mesma finta, muito provavelmente seria travado pelo defensor. A resposta está nos truques que as pernas de Ronaldo desenham, na destreza de seus movimentos que, na atual lentidão de suas execuções, ainda é capaz de ludibriar e assombrar.

Ainda há espaço, no futebol contemporâneo, para expressões de verdadeiro talento. Há quem diga que Garrincha, ou mesmo Pelé, não jogariam tão bem, se atuassem hoje, por conta do forte preparo físico dos marcadores e da velocidade com que o futebol é praticado atualmente. No domingo, Ronaldo demonstrou o contrário, desfilando um futebol mágico que, pela precisão vagarosa de seus gestos, lembrou uma época romântica desse jogo tão popular.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Agora sim: é dia 8!

por Renato Godoy


O “dia 8”, exaltado há cerca de um mês pela torcida rival nos estádios, chegou. Dado o importante passo para a próxima fase da Copa do Brasil, todo o corinthiano que se preze não para de pensar, sonhar e divagar sobre o clássico na cidade do Prudentão, do Pop’s Drinks e do, felizmente, ex-diretor do Corinthians, Antônio Carlos.

Tenho família em Prudente, morei lá por um tempo, e posso afirmar categoricamente: o calor de lá é insuportável. Itumbiara ou o CT de Itaquera ficam no chinelo quando o assunto é temperatura. Os relatos que vêm do Oeste Paulista asseguram: no domingo a temperatura deve circundar os 35 graus. Se os torcedores que irão ao Prudentão, que leva o odioso nome de José Eduardo Farah, sofrerão com a temperatura, certamente os jogadores a sentirão ainda mais. Nada positivo para quem espera ver um Ronaldo voando em campo.

Sob essas condições, aproveitando a sessão de “pitacos” inaugurada pelo Felipe, arrisco minhas sugestões para o clássico.

Palpitando

Primeiro, Ronaldo só no segundo tempo. Sei que a ansiedade para ver o atacante em um jogo importante é imensa. No entanto, pelo que foi mostrado em Itumbiara, ele não está pronto para atuar nos primeiros 45 minutos. Não que eu esteja descontente com a primeira atuação dele. Como disse o Felipe, jogou mais que os nossos dois titulares da frente. Sem dúvida, em dois lances ele demonstrou o potencial do antigo Ronaldo, mas numa versão mais idosa e obesa. Porém, acredito que a entrada dele nos primeiros minutos do segundo tempo seria mais vantajosa. Já que ele enfrentaria um adversário já desgastado e, às 17 horas, o calor tende a amenizar, um pouco.

No ataque, o time deveria começar com Dentinho e Otacílio, que corre mais que o nosso 9 na fase Fenômeno, com exagero e tudo. Sobre o time sugerido pelo companheiro Carrilho, Boquita de semi-volante, como no último jogo, não dá. Há grandes chances de o garoto, que demonstra talento, ser fritado se continuar fazendo essa função. Se bem que Túlio também não é uma grande opção para a posição. Aliás, Túlio dá vontade de chorar, como ele gosta. Já mostrou-se despreparado para clássicos e momentos decisivos.

Então, a minha escalação ideal seria: Felipe; Fabinho, Chicão, William e André Santos; Christian, Elias, Boquita e Douglas; Dentinho e Otacílo Neto.

Chegou a hora, Mano!

Sobre o nosso treinador, afirmo que desde 2005 não tínhamos um time, com padrão tático. Desde o ano passado, temos uma equipe sólida, com a escalação que a maioria dos corinthianos conhece de cor, do goleiro ao "ponta-esquerda". Sem dúvida esse mérito deve ser creditado ao Mano.

A questão levantada aqui neste blog é pertinente. Infelizmente o comandante alvi-negro tende a adotar uma estratégia mais defensiva e até covarde em alguns momentos decisivos, como na tragédia da Ilha do Retiro.

Vale lembrar que não ganhamos clássicos sob o comando de Mano Menezes. Aliás, a principal vitória dele foi contra o Botafogo, na semi-final da Copa do Brasil de 2008. Esperamos muito mais dele. Não restam dúvidas que, para crescer sua identificação com o Corinthians, ele deve ser mais agressivo nos momentos cruciais. Que assim seja no domingo.

Pitacos corintianos para o clássico contra o Palmeiras

por Felipe Carrilho


Apesar da vontade demonstrada em campo, ficou claro, na partida do Corinthians contra o Itumbiara, que Ronaldo ainda está muito longe da forma física de um atleta profissional. Tal constatação obviamente contraria as diversas declarações dadas por membros da comissão técnica corintiana, segundo as quais o que falta agora para o Fenômeno é principalmente ganhar ritmo de jogo. Ronaldo ainda precisa emagrecer e melhorar muito o seu condicionamento físico para se equiparar aos demais jogadores do elenco.

A dois dias do confronto contra o Palmeiras, já sabemos que o camisa 9 corintiano entrará em campo. O que todos se perguntam é se Mano Menezes optará por escalá-lo como titular, ou se promoverá a sua entrada no decorrer da partida. Apesar de todas as adversidades enumeradas acima, entendo que Ronaldo deveria sair jogando desde o início. Na partida contra o Itumbiara, nos poucos 27 minutos em que esteve em campo, jogou melhor do que Jorge Henrique e Souza juntos. Este último, se não bastasse sua condição técnica limitada, se mostrou muito inseguro contra o time goiano, cometendo diversos erros infantis durante todo o tempo em que atuou.

Mano Menezes precisa rever a sua maneira de atuar nos momentos importantes à frente do Corinthians, como nas decisões e nos clássicos. O treinador dá a impressão de sentir o peso da responsabilidade nessas horas. Foi assim na final da Copa do Brasil, no ano passado, contra o Sport, quando optou por montar, antes do jogo, tal esquema de isolamento para a equipe, que esta teve de chegar disfarçada ao aeroporto e hospedar-se a quilômetros de distância do local da partida. Essa estratégia se revelou desastrada, terminando por apequenar o time do Corinthians. Também no recente clássico contra o São Paulo, o excessivamente cauteloso esquema tático adotado pelo comandante, com três zagueiros, possibilitou ao time reserva do Morumbi o domínio completo da partida.

Sugestão de escalação e esquema tático para o Corinthians contra o Palmeiras no próximo domingo:


______________Felipe________________

________Chicão_____William___________

Fabinho______Cristian_____André Santos_

________Elias________Boquita_________

_____________Douglas________________

_______________________Dentinho_____
_____________Ronaldo_______________

quinta-feira, 5 de março de 2009

A mística corintiana

por Felipe Carrilho



Cada time de futebol possui uma mística própria que, no limite, acaba por defini-lo. Podemos entender o termo "mística", da maneira como o empregamos nos assuntos futebolísticos, como sendo um conjunto de ideias e representações que povoam o imaginário de um determinado clube e dos elementos relacionados a este, como a sua torcida, por exemplo.
A mística corintiana é bastante curiosa e original. O Corinthians é o único clube brasileiro calcado no culto ao sofrimento e à dor. A alma corintiana transforma sentimentos considerados indesejáveis em virtude. Não é à toa que bradamos nas arquibancadas: "Corintiano, maloqueiro e sofredor/Graças a Deus!".
Artifícios como esse, lançados pela torcida corintiana, parecem responder à necessidade de suportar as desilusões futebolísticas que marcaram a trajetória do clube do Parque São Jorge. Porém, a originalidade perturbadora da questão da mística corintiana está no fato de que reações desse tipo não apenas representam uma forma de resistência, mas, principalmente, fundamentam a identidade e a grandeza do Corinthians. Vale lembrar que foi no período de quase 23 anos em que o alvinegro esteve sem conquistar títulos de expressão que a torcida corintiana mais cresceu.
Tenho 27 anos de idade e, portanto, vivi intensamente o grande momento corintiano do final da década de 1990 e do início dos anos 2000. Um time que possuía um meio de campo formado por Rincón, Vampeta, Marcelinho e Ricardinho - todos no auge de suas carreiras - era de encantar qualquer um. E, de fato, muitas alegrias comemorei nesse período. Entretanto, passadas as festividades, uma sensação peculiar sempre me assaltava. Era uma espécie de ressaca moral, um sutil sentimento de culpa pela vitória alcançada. Desconfio que a mística corintiana tenha muito a ver com isso.

segunda-feira, 2 de março de 2009

São Paulo e Corinthians em "Linha de passe", de Walter Salles

por Felipe Carrilho



Sempre achei o Walter Salles um bom diretor de cinema, até os 15 minutos finais de seus filmes. Até os 30 do segundo tempo, o cineasta costumava apresentar, com razoável competência, produções de temáticas sociais, com nítida preocupação fotográfica, tratadas com delicadeza, embora em alguns (ou muitos) momentos flertando com a emoção fácil. Mas sempre a coisa começava a desandar até que, no final, vinha a morte súbita do filme.

A cena mais representativa desta "perda de mão" está em "Diários de Motocicleta", uma saga do jovem Ernesto, o futuro revolucionário Che Guevara. Apesar das críticas que apontaram uma certa incoerência na estrutura narrativa do longa, tratou-se de contar, de forma equilibrada, uma aventura de meninos argentinos bem-nascidos e ávidos por um pouco de emoção, em viagem pela América Latina. Mas, claro, "o jogo só acaba quando termina". No clímax do filme, quando Ernestinho começa a se tornar Che, o asmático personagem, no dia de seu aniversário, arrisca-se heroicamente (para não dizer messianicamente) atravessando a nado o riacho de um leprosário peruano – que separa os sãos dos doentes –, embalado por uma trilha sonora de intenções "novelisticamente" dramáticas, para comemorar, do outro lado, o seu dia com os segregados.

Assim, quando fui assistir ao "Linha de passe", confesso que esperava deslizes parecidos. Ainda mais porque se tratava de uma história de um drama familiar na periferia de São Paulo: quatro irmãos e uma mãe grávida do quinto filho. Mas errei no meu prognóstico. O longa foi conduzido de maneira muito diferente da costumeira. Não há, na linguagem do filme, o sentimentalismo de sempre. Os personagens, ao contrário, são duros, incoerentes, humanos.

Porém, não se trata, aqui, de analisar as questões técnicas restritas à produção cinematográfica, mas sim a presença do futebol na trama do filme. E esta se deu de maneira precisa: O enredo, pode-se dizer, desenha alguns tensos momentos de contatos dos membros da acidentada família paulistana com o outro lado da sociedade, a classe média, as elites, no decorrer de suas trajetórias. Os personagens, desse modo, encontram pela frente a dura tarefa de forjar as suas sobrevivências e identidades em meio a uma composição social caótica e essencialmente contraditória. O futebol é, então, habilmente concebido como pano de fundo ilustrativo destas tensões. E, não por acaso, o clássico escolhido, para tanto, é São Paulo e Corinthians, times que, no imaginário futebolístico, representam tradicionalmente os contrastes riqueza/pobreza, elite/povo, ou, mais adequadamente neste caso, centro/periferia.

No aspecto do filme que enfatiza o futebol, a personagem central é certamente Cleusa, a mãe. Corintiana fanática, em muitos takes aparece no estádio, em meio à fiel torcida. Suas desventuras particulares, como a quinta gravidez e a constante ameaça de desemprego, são permeadas por um drama coletivo que ela personifica: a luta do Corinthians para não ser rebaixado à série B do Campeonato Brasileiro e o sofrimento de seus torcedores. Se partirmos do que aconteceu ao time do parque São Jorge ao final da competição, poderíamos ler, no desfecho do filme, a derrota das classes subalternas, representadas alegoricamente pela família paulistana em questão. Mas, é bom que nos lembremos que o jogo que aparece nas telas onde "Linha de passe" é exibido terminou com o placar de 0x1, gol de Betão, o que garante, ao contrário do que acontece na maioria das outras produções de Salles, um final de uma esperança apenas sugerida, e um belo filme.

domingo, 1 de março de 2009

Futebol e cidade: o Nacional Atlético Clube no jogo da história*

por Felipe Carrilho e David Sampaio

A história do futebol é uma triste viagem do prazer ao dever. Eduardo Galeano







Clube da 3ª divisão paulista exemplifica as contradições da urbanização da cidade e da profissionalização do futebol
A simples narrativa de fatos e anedotas que pontuam a trajetória de um clube de futebol pode despertar pouco interesse científico. O futebol se torna um tema de maior alcance, no entanto, quando entendido como uma espécie de janela privilegiada para a observação da dinâmica de uma determinada formação social. Desse modo, o percurso do Nacional Atlético Clube está relacionado às transformações verificadas em São Paulo (SP) e no bairro da Água Branca, desde meados do século 19.

A antiga estrada-de-ferro São Paulo Railway, depois Santos-Jundiaí, inaugurada em 1867 é parte fundamental da história da cidade e está diretamente ligada ao clube em questão. Sua implantação permitiu o rápido escoamento da produção cafeeira do interior do Estado e preparou o terreno para a futura industrialização da capital. A segunda metade do século 19 é, assim, marcada pelo desenvolvimento paulistano patrocinado pela pujante economia cafeeira, em muitas dimensões e com diversas consequências. No campo cultural, podemos mencionar a presença da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. No plano arquitetônico, a partir de concepções higienistas, destaca-se uma profunda urbanização da cidade.
Uma das regiões que vivenciou um crescimento nesse período foi a então pouco povoada Água Branca. Caracterizado como um local de passagem de tropeiros, o bairro foi escolhido para a construção de uma estação de trem da São Paulo Railway no mesmo ano da inauguração da estrada-de-ferro. Sua implantação permitiu a formação de um pequeno núcleo urbano, habitado principalmente por funcionários da ferrovia. Anos mais tarde, um novo impulso populacional se daria com a chegada das indústrias que também se instalaram na região, beneficiando-se da praticidade de estar ao lado da estrada-de-ferro e dos baixos preços dos terrenos.

Origem operária

No dia 16 de fevereiro de 1919, funcionários da São Paulo Railway organizaram um time de futebol com o nome e o apoio da própria companhia, que ficou conhecido pelas iniciais SPR. Nascia, assim, o futuro Nacional Atlético Clube. Ao lado de outros times de origem fabril, tais como o Juventus, o SPR representou uma oportunidade para setores menos favorecidos da sociedade – entre negros e operários – ocuparem espaço nas equipes de futebol, o que, de certa forma, popularizou a sua prática, até então um privilégio das elites.

O ano de 1938 foi fundamental para a trajetória da entidade. No dia 14 de maio inaugurou-se o seu estádio, com uma partida entre o SPR e o Corinthians. O jogo terminou com o placar de 2 a 1 para os visitantes. A arena da rua Comendador Souza recebeu o nome do uruguaio Nicolau Alayon, dirigente do time e um dos seus maiores entusiastas. Com capacidade para 11 mil pessoas, é a única no Brasil a homenagear um estrangeiro. O aparecimento de estádios na capital é emblemático para entendermos o sempre contraditório “jogo histórico”, em que, nesse caso, as trajetórias do futebol e da cidade se sobrepõem. Ou seja, ao passo que, com as crescentes industrialização e urbanização de São Paulo foram sendo construídos os estádios de clubes particulares (Morumbi, por exemplo) ou do poder público (Pacaembu), em áreas que se tornaram referencial para o desenvolvimento de grandes bairros residenciais, o espaço lúdico, palco dos campeonatos de várzea, por outro lado, sucumbia. Convém lembrar que no vale do ribeirão Pacaembu existiam muitos campos de várzea, os quais desapareceram com a construção do estádio municipal.

Profissionalização

Ainda no decorrer dos anos de 1930, clubes como Corinthians, Palmeiras e o próprio Nacional viveram o fenômeno da profissionalização do futebol. Ao mesmo tempo em que a cidade atravessava um processo “modernizador”, no qual o espaço urbano se afeiçoava cada vez mais à impessoalidade das relações financeiras, o futebol, antes praticado nas várzeas e animado pela simples alegria do jogo, foi gradualmente se aliando ao frio pragmatismo, se profissionalizando.

A concessão da São Paulo Railway terminou em 1946 e o clube foi rebatizado com o atual nome, Nacional Atlético Clube. Sua primeira partida com nome e uniformes novos foi um amistoso contra o Flamengo. Em um Pacaembu lotado, jogando o primeiro tempo como SPR e o segundo como Nacional, o time acabou perdendo por 4 a 2.
A trajetória do Nacional – modesta se comparada a dos grandes clubes do Estado – está vinculada de modo peculiar à modernização do esporte e da cidade, ilustrando, assim, os antagonismos e desigualdades presentes na transição de nosso futebol, do amadorismo ao profissionalismo, e na consolidação de São Paulo como a “cidade que mais cresce no mundo”. Atualmente, o clube disputa a série A3 do Campeonato Paulista. A posição pouco expressiva que ocupa no cenário futebolístico não deixa de representar as tristes contradições de ambos os processos. É o jogo da história.

*Texto originalmente publicado no jornal Brasil de Fato em outubro de 2008.

Pontapé inicial: o objetivo deste blog

por Felipe Carrilho
O futebol pode ser um tema de maior alcance e instrumento de reflexões abrangentes se concebido para além de suas questões meramente factuais ou episódicas. Assim, procuraremos entender esse esporte como uma espécie de janela privilegiada para a observação da dinâmica de outros setores de nossa vida social.
É claro que uma cobertura de caráter mais jornalístico, dos campeonatos e jogos do momento, possui também a sua relevância, e terá espaço neste blog. Entretanto, o objetivo principal deste veículo será, a partir do futebol, promover ponderações críticas a respeito do conjunto da sociedade e de suas manifestações políticas, artísticas, culturais etc.