segunda-feira, 27 de abril de 2009

Mais Ronaldo



por Felipe Carrilho






É claro que, ontem, o Corinthians fez um bom jogo e, por isso, obteve um grande resultado diante do Santos. Entretanto, não podemos deixar de perceber a grande atuação do destaque da partida: Ronaldo.

Ronaldo, pode-se dizer, foi (ou tem sido) como Romário na Copa de 94. Teve a posse da bola em apenas meia dúzia de oportunidades, errou dois passes de maneira infantil (ao contrário do que o Baixinho costumava fazer, naquela ocasião, é verdade) e fez dois lindos gols, o primeiro digno de Romário e o segundo digno de Pelé.

Os gols

Aos 25 minutos do primeiro tempo, o placar estava 1 a 0 para o Corinthians, gol de falta de Chicão, quando Ronaldo recebeu uma bola espanada pelo mesmo zagueiro. Dominou com maestria, a bola grudada no seu pé direito por um instante, dominando e armando, ao mesmo tempo, o chute rápido de esquerda, sem chances para o goleiro Fábio Costa.

O segundo gol foi ainda mais espetacular. Aos 31 minutos do segundo tempo, quando o Santos tentava desesperadamente empatar a partida, Ronaldo recebeu um passe de Elias, aplicou um drible seco e característico no lateral Triguinho e, quando todos esperavam que ele fosse tentar devolver a bola ao Elias, ou que fosse partir para cima da defesa santista, ou, ainda, arriscar de qualquer maneira de fora da área, Ronaldo, de modo genial e assustador, não bateu na bola, acariciou-a, de esquerda, por cima do atônito goleiro do Santos: 3 a 1.

Foi um gol de rei, tanto que o Rei afirmou: "Foi gol de Pelé na Copa do Mundo".

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Lendas de Ogum

por Felipe Carrilho


Apresento, a seguir, alguns mitos colhidos a respeito do orixá Ogum, a versão mais corintiana de São Jorge, em homenagem ao seu dia, 23/04:

(1) Ogum foi o segundo filho de Iemanjá e era muito ligado ao irmão mais velho, Exu. Os dois eram muito aventureiros e brincalhões, estavam sempre fazendo estrepolias juntos. Quando Exu foi expulso de casa pelos pais, Ogum ficou muito zangado e resolveu acompanhar o irmão. Foi atrás dele e por muito tempo os dois correram mundo juntos. Exu, o mais esperto, resolvia para onde iriam; e Ogum, o mais forte e guerreiro, ia vencendo todas as dificuldades do caminho. É por isso que Ogum sempre surge no culto logo depois de Exu, pois honrar seu irmão preferido é a melhor forma de agradá-lo; e enquanto Exu é o dono das encruzilhadas, Ogum governa a reta dos caminhos.
(2) Quando Ogum conquistou o reino de Irê, deu o trono para o filho e partiu em busca de novas batalhas. Anos depois, ele voltou; mas chegou no dia de uma festa religiosa em que todos deviam guardar silêncio. Sentindo sede, quis beber, mas o vinho havia sido todo usado no ritual religioso; pediu comida e ninguém lhe respondeu, por causa da proibição religiosa. Pensando que o desprezavam, Ogum puxou a espada e matou todo mundo. Quando terminou a cerimônia religiosa, o filho veio ao encontro de Ogum, prestou-lhe todas as homenagens e ofereceu-lhe um banquete. Quando lhe explicaram o que ocorrera, Ogum ficou horrorizado com seu crime. Cravou a espada no chão e fez com que se abrisse um grande buraco por onde se afundou, tornando-se desde então um Orixá.
(3) Depois que Exu foi expulso de casa pelos pais, ficou decidido que Ogum, o segundo filho, seria o sucessor do pai no governo. Entretanto, Ogum não gostava desse tipo de atividade. Seu prazer estava nas aventuras. Quando substituiu o pai durante uma viagem deste, Ogum deixou de lado as funções de governante, dedicando-se a passeios e confusões com os amigos. Estava sempre se metendo com as namoradas alheias e arrumando brigas. Para mantê-lo sossegado, então, o pai lhe deu o comando do exército e a missão de responder às agressões ao reino e de conquistar novos territórios. Nessas atividades, ele foi muito bem sucedido.

Há um ótimo texto sobre São Jorge e seu sincretismo com Ogum em http://anarcorinthians.blogspot.com/2009/04/ao-santo-padroeiro.html


Patakori!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

A violência para além do futebol

por Renato Godoy

Há cerca de um mês, o governo federal lançou um pacote para, segundo o próprio, solucionar a questão da violência no futebol. Em muitos aspectos as medidas são inspiradas no modelo europeu, com encarecimento dos ingressos e repressão pesada para os que causarem distúrbios. Grosso modo as medidas reproduzem o que o senso comum aponta como solução para a violência em geral: monitoramento das áreas de risco, aumento de pena e novas prerrogativas jurídicas. Por outro lado, há itens interessantes que podem acabar com o cambismo, facilitando o acesso ao ingresso e punindo dirigentes que promoverem tal atividade. Escrevi uma reportagem para o jornal Brasil de Fato sobre o assunto, ouvindo dois acadêmicos e um membro dos Gaviões da Rua São Jorge. Por ser um tanto extensa, vou publicá-la em três trechos. O primeiro segue abaixo, os próximos postarei até o fim da semana.

Pacote contra violência no futebol: vigiar e punir apenas?
Governo lança medidas com caráter punitivo para pacificar os estádios, sem atacar as causas dos distúrbios


Desde 2004, cerca de 40 torcedores foram assassinados por questões ligadas ao futebol. Essa violência motivada por desavenças entre torcedores rivais tende a ser tratada cada vez mais como caso de polícia. Após reuniões entre Ministério Público e estudiosos do assunto, os ministérios do Esporte e da Justiça emitiram, em março, um projeto de lei que visa criminalizar atitudes violentas, cobrindo brechas da lei que, segundo entusiastas da medida, davam margem à certeza da impunidade.
Portar pedaços de pau, pedra ou fazer apologia à violência num raio de 5 Km do estádio passa a ser um crime semelhante ao porte ilegal de armas. A prática dos cambistas também será passível de detenção de até dois anos. Neste último caso, se o infrator for ligado a algum clube, a pena pode ter acréscimo de um terço.
Apesar de não constar no conjunto de medidas do governo, há uma proposta que ganhou força e foi motivo de polêmica: a criação de uma carteira nacional de identificação de torcedores, que seria obrigatória para quem quiser frequentar estádios com capacidade superior a 10 mil espectadores. Por enquanto, o governo prevê apenas a implementação de um cadastro nacional e a instalação de um sistema de monitoramento nas principais arenas.

“Controle social”
A medida complementaria uma lei que já entrou em vigor nos estádios da capital paulista, que restringe um setor aos torcedores organizados com cadastro na Federação Paulista de Futebol e na Polícia Militar. No entanto, especialistas e representantes de torcidas criticam a instituição da carteirinha. Já a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) vai além e questiona a constitucionalidade do projeto.
Na avaliação de Augusto Juncal, membro do coletivo Rua São Jorge dos Gaviões da Fiel, maior organizada do país, com cerca de 80 mil associados, as novas medidas apresentadas pelo governo federal servem mais como mecanismo de controle social do que como garantia de maior conforto aos torcedores de futebol.
“Apesar de, na época do cadastramento das torcidas organizadas [determinada pelo Estatuto do Torcedor], os Gaviões terem apoiado a medida, sempre fui contra ela. A maioria achava que aquilo fazia parte de uma coisa maior, e que se tudo que estava previsto [no Estatuto] fosse cumprido, seria bom. Mas alertei que eles estavam preocupados apenas em nos cadastrar. Agora estamos vendo o que ela representa. Eu e antigos diretores da torcida acompanhávamos muitos garotos que iam se cadastrar na Polícia Militar. E eles sofriam humilhações. Eles gravam voz, impressões digitais...'Ah, vocês são de organizadas, são bandidos', diziam os policiais. Tratavam eles como marginais”, explica.

Para ele, o cadastramento nacional faz parte de um quadro de “militarização” do país. “Isso é um exercício de controle da sociedade, para saber quem você é, se já teve problema com a polícia, se é de movimento social. Não há outro objetivo. Não reduz violência. Porque as brigas raramente ocorrem nos estádios. Elas acontecem no metrô, nas imediações. As violências nos estádios partem da polícia”, denuncia.

Ressalvas
Para a socióloga Heloísa Reis, da Unicamp, a eficiência da medida é questionável. “O cadastramento do torcedor é bom, mas não há necessidade da carteirinha, acho que é um mecanismo caro e burocrático. O estatuto do torcedor de 2003 já prevê o monitoramento dos estádios acima de 10 mil lugares, bem como o cadastramento dos torcedores organizados”, pondera.
Na opinião da socióloga, que tem participado de reuniões com o Ministério dos Esportes, há uma maneira mais simples de se fazer o cadastramento. “O governo deveria incentivar os clubes a vender ingressos para a temporada inteira [tal como é feito nos principais campeonatos europeus]. Assim, os clubes cadastrariam os torcedores e ele saberia quem são as pessoas que frequentam o estádio”, propõe.
Outro especialista no assunto, o sociólogo Maurício Murad, da Uerj, também critica o projeto. “A carteira de identificação é uma medida superficial, que não alcança o cerne de nenhuma das causas principais da violência, que atinge os nossos estádios de futebol e o entorno a eles. Acho que um projeto de combate à violência em qualquer setor social deve ser rígido, sim. Não se pode ser complacente com o vandalismo. Contudo, um plano de combate efetivo deve contemplar três grandes níveis de atuação que devem ser interligados, permanentes e atender à cultura local. Reeducação, prevenção e punição. Acho que as causas principais, de fato, não estão sendo alcançadas pelo projeto do governo”, afirma.
Para Augusto Juncal, o cerne da questão não está sendo abordado pelo Executivo federal. “A maioria da molecada que chega para se associar aos Gaviões, que tem em torno de 15 anos, vem da periferia. Eles já vêm com uma carga de violência daquela realidade; às vezes eles chegam lá após o pai bater na mãe durante o dia inteiro. São pessoas que aprenderam a resolver os problemas de forma violenta. Não têm palavras para argumentar, porque não têm estudo. Então resolvem desse jeito. Existiam brigas no futebol já no início do século 20. Então, junta-se tudo, os problemas sociais, os descontentamentos individuais, a situação em que vivemos e a carga de violência que já está contida no esporte. Aí, tudo descamba para o futebol. Por isso que muitas vezes não conseguimos controlar”, explica.

Medidas radicais
O promotor público Paulo Castilho, que acompanha a questão da violência no futebol, tem elogiado tais projetos. Até porque ele foi um de seus entusiastas. Porém, Castilho vem apresentando outras medidas polêmicas, tais como a redução da carga de ingressos para visitantes para 5% e que estes saiam do local da partida depois dos torcedores mandantes. No Campeonato Paulista, a sugestão do promotor foi posta em prática, até o momento sem grandes incidentes nos arredores. No entanto, foi quebrada a tradição de estádios divididos entre duas grandes torcidas, como ainda ocorre no Maracanã (RJ) e no Mineirão (MG).
Citando o que já ocorre na Argentina, o ministro dos Esportes Orlando Silva vai além das iniciativas defendidas por Castilho: em clássicos, o estádio deveria ser inteiramente destinado aos mandantes. Silva pondera que a medida seria apenas em caráter emergencial. Além destas propostas, medidas de caráter declaradamente elitistas tendem a serem implementadas.

Site italiano coloca Vieri ao lado de Ronaldo no Timão

http://footballpress.net/index.php?action=read&idsel=34492

terça-feira, 21 de abril de 2009

Algumas observações sobre a vitória épica

por Sérgio Marcondes

1) Mano Menezes ganhou taticamente o jogo. O Corinthians jogou bem, não ficou retrancado, foi pouco pressionado e foi preciso nos contra-ataques. Aliás, o segundo tempo mostrou a diferença entre um meia, que se não é sempre genial, sabe cumprir bem seu papel, dá toques rápidos, faz lançamentos e carrega bem a bola, como Douglas, e um bom volante que foi transformado em meia e exaltado exageradamente, como Hernanes.

2) Ronaldo fez a diferença mais uma vez, não só pelo pique fenomenal (com trocadilho) no lance do segundo gol, mas também pela visão de jogo que demonstrou ao dar o passe para Jorge Henrique, na jogada que resultou no primeiro gol. Como disse Tostão, ele ainda pensa e age mais rapidamente do que os outros jogadores.

3) Curioso o jornal "O Estado de S. Paulo" colocar ontem, como uma das razões para o resultado do jogo, que o São Paulo "cansou de perder gols" no primeiro tempo... Com muita boa vontade, lembro de duas chances de gol do time no primeiro tempo, um chute de Jorge Wagner e uma jogada de Washington (que, para variar, estava impedido e tinha feito falta não marcada...). Nada que demonstre uma pressão terrível ou uma sucessão de chances desperdiçadas. Será que ainda é uma tentativa de aliviar o vexame do São Paulo, na linha do "resultado injusto"?

4) O time do São Paulo morreu totalmente depois do segundo gol, não conseguia criar mais nada e parecia sem ânimo até para marcar... O resultado só não foi maior porque o Corinthians também diminuiu o ritmo, e não parecia acreditar no que aconteceu. Para um time tão bem preparado fisicamente, tão superior técnica e taticamente, com uma torcida tão maravilhosa, e tantas qualidades únicas (sempre de acordo com a própria visão que os são-paulinos demonstram do time, é claro), não seria um vexame? 2 a 0, faltando mais de 30 minutos, é um resultado bem possível de tentar ser revertido, para qualquer time que tivesse mais garra e dedicação. A não ser que a arrogância e a confiança na vitória fossem tão grandes que o time tenha sido enormemente surpreendido, o que seria um fato bastante revelador do espírito costumeiro do São Paulo.

5) Para encerrar, uma ótima piada, copiada do blog do Juca Kfouri: "Como o São Paulo podia pensar em ganhar o jogo, se entrou em campo com 11 goleiros"? :)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Vitória na moral e na bola

por Renato Godoy
Findado o período em que a torcida são-paulina/imprensa consideravam o Corinthians como “freguês” do São Paulo, a Nação Corinthiana passou a aguardar ansiosamente pela restituição da normalidade: derrotar o São Paulo em um jogo decisivo.

No entanto, os mais otimistas não poderiam imaginar que a recompensa viria de forma tão generosa e repleta de simbolismos. Além de vencer os dois jogos, o Corinthians obrigou o São Paulo a contradizer-se vergonhosamente. Entre as duas vitórias do Timão, optaram por um time reserva para poupar os titulares para o jogo mais importante. Ou seja, priorizaram o “paulistinha”, organizado por seus “inimigos” da Federação Paulista, em detrimento da Libertadores. Normal? Sim, mas não para o São Paulo e seu cosmopolitismo autodeclarado.

Para o corinthiano, que passou as maiores vergonhas de sua vida nos últimos anos, não bastavam as vitórias contra o rival. Era preciso algo mais. A empáfia e arrogância dos dirigentes do clube do Morumbi tinham de ser respondidas, à maneira do Corinthians. E assim Ronaldo e Mano Menezes fizeram. O primeiro chamou o vice-presidente são-paulino, que o zombara, de “
babaca que fala merda”; já o treinador ironizou Muricy Ramalho e sua “bola de cristal”.

Outra revelação simbólica, que não vi ninguém questionar até agora, é a maneira “amadora”, “antiprofissional” e “terceiromundista” – para usar o jargão do clube – como a diretoria do SP se comportou horas antes do início do jogo deste domingo. Antes da abertura dos portões, o setor destinado à Fiel foi “decorado” com penas de galinha e milho, aludindo ao apelido que eles inventaram, sem sucesso, para o Corinthians. Nada condizente com a modernidade e a racionalidade e outros jargões pregados por eles.

Quase impecável
Não só os acontecimentos simbólicos listados acima fizeram a alegria dos corinthianos. Dentro de campo o time apresentou superioridade nos dois jogos. Sem nenhum brilho, é fato, o time demonstrou raça e competência, ciente de suas obrigações, sem vacilações. Não teve qualquer tipo de demonstração de desespero, ao contrário do adversário.

Vale ressaltar o retorno de Douglas, que teve uma apresentação exuberante, lembrando suas partidas do ano passado.
A bola de cristal do Felipe parece ser mais confiável do que a do técnico do São Paulo.

O setor defensivo mostrou-se impecável. As únicas complicações no jogo decisivo partiram de falhas individuais, de Ronaldo e Alessandro. Este último, aliás, fez excelente partida, aparecendo em todos os lados do campo e lutando muito pelas bolas, além da eficiência demonstrada nos passes.

O camisa 9 corinthiano errou muitos passes no início do jogo e apresentou um problema recorrente: dificuldade para dominar bolas. Mas, o camisa 9 chama-se Ronaldo. Em dois lances decidiu a partida. No primeiro, uma virada de bola extraordinária para Jorge Henrique. Dois minutos depois, após uma bola perfeita de Cristian, deixou o zagueiro Rodrigo comendo poeira e finalizou com a precisão daquele Ronaldo. O Corinthians somou 4 x 1 no placar agregado. E poderia ter sido mais.
Se fosse aqui...
O São Paulo somou 3 derrotas em uma semana. Duas delas, para o seu maior rival, representaram a eliminação em um torneio que foi priorizado. Se fosse o Corinthians que se encontrasse nessa situação, a imprensa definiria tal momento com uma palavra: crise!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A irônica contusão de Rogério Ceni


por Felipe Carrilho

Na última segunda-feira (13/04), como todos sabem, o goleiro Rogério Ceni sofreu uma fratura no tornozelo esquerdo, durante um treinamento no CT do São Paulo.

O acidente ocorreu, de modo curioso, no clube paulista que encarna os ideais de nossas classes dominantes e provincianas - como o profissionalismo, o pragmatismo, o elitismo, entre outros - e justamente com o capitão são-paulino e jogador símbolo deste ideário.

Tais valores, quando "traduzidos" para o universo futebolístico, revelam-se na forma de provocações de torcedores e dirigentes, tais como "não nos importamos com campeonatinhos estaduais, apenas com a Libertadores", "os nossos rivais são o Barcelona, o Milan...", "passaporte de corintiano é bilhete de metrô", ou ainda na complacência de alguns críticos de futebol: "o São Paulo é um modelo de administração", "tem a melhor estrutura do Brasil", etc.

Entretanto, como podemos observar claramente na foto acima, e apesar das declarações contemporizadoras de Marco Aurélio Cunha, Rogério Ceni torceu o tornozelo no (ou pelo) danificado gramado de um "campinho" (um campo anexo) do centro de treinamento do São Paulo, durante um "rachão" com os jogadores reservas.

O fato de Rogério não ser exatamente uma das figuras mais progressistas do futebol não diminui o pesar de sua contusão. Porém, diante das representações que são feitas sobre o São Paulo e/ou pelo próprio clube sobre si mesmo, o incidente, ocorrido sob as precárias condições descritas acima, não deixa de conter uma ironia reveladora.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Demasiadamente humano

por Renato Godoy

Jogo decisivo para o seu time. Último lance da partida. Um bravo volante de sua equipe desarma um adversário que pretendia driblá-lo, quiçá humilhá-lo. Em três toques ele vislumbra a possibilidade de um chute de longa distância. Finaliza com força, com raiva, com êxito.

Em situações como essa, vividas diversas vezes por torcedores, sobretudo corinthianos, a reação mais natural é a explosão, num misto de alegria e sentimentos "menos nobres". Toda a raiva e nervosismo acumulados durante
o jogo, ou durante a semana, são expressas em atos impensados, xingamentos e urros incompreensíveis.




O torcedor, à beira do campo, reage assim. Então, por que Cristian, o protagonista, não pode comemorar da forma como fez no domingo? Tal como todo o elenco do Corinthians, Cristian passou a semana inteira concentrado, na tensão do clássico. No jogo em si, passou todo o tempo regulamentar com um placar adverso – o empate não lhe interessava. Aos 96 minutos de jogo, faz o gol mais importante de sua carreira. E querem cobrar dele uma atitude racional? Se aquele não era um momento oportuno para agir emocionalmente, quando seria?

Imediatamente após o jogo, surgiram reações de cunho moralista, alegando que os gestos do volante não condizem com o anseio pela paz nos estádios. De certo, aquilo não era uma pomba da paz, como alguns queriam, mas a animosidade entre as duas torcidas não aumentou ou diminui por conta do ocorrido.

O certo é que Cristian, após o belo gol, encarnou o espírito do torcedor corinthiano. Zombou do adversário e comemorou de forma impressionante junto aos seus companheiros. Nada mais justo.

Puni-lo pelo gesto seria uma tentativa de destruir de vez o que ainda existe de humano no futebol. O que querem? Um espetáculo com comemorações pasteurizadas, incapazes de quebrar um alambrado ou de chegar perto dele, e repletas de palavras polidas? Se o futebol for isso, me incluam fora dessa.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Semifinal: Corinthians x São Paulo

por Felipe Carrilho

Mano Menezes

Em meio a boatos de que o Corinthians entraria em campo com três zagueiros - com Fabinho improvisado na defesa pelo lado direito, num papel similar ao que fazia Escudero pela esquerda -, o treinador corintiano surpreendeu a todos, escalando um time bastante ofensivo com três atacantes:

_________________Felipe_______________

___________Chicão______Willian_________

Alessandro__________________André Santos

________________Cristian_____________

____________Elias______________________
____________________Douglas___________

Jorge Henrique__________________Dentinho

_______________Ronaldo________________

O resultado da ousadia foi o melhor desempenho do Corinthians em clássicos sob o comando de Mano Menezes.

São Paulo

A equipe do Morumbi abdicou de jogar o tempo inteiro, postando-se na defesa. Em má fase, Rogério Ceni procurou retardar a reposição de bolas desde a sua primeira participação no jogo. Os números da partida ilustram bem a proposta são-paulina. Enquanto o Corinthians trocou 397 passes, o São Paulo passou a bola apenas 159 vezes. Além disso, o Timão finalizou 19 vezes, o São Paulo apenas 9.


Os destaques

Os melhores jogadores corintianos da partida foram os autores dos gols: Elias e Cristian. Ambos representam o diferencial do meio-campo corintiano, pois combinam forte marcação e boa tecnica. Cristian, por exemplo, não errou nenhum passe durante a partida.


Balanço final

Apesar de reverter a vantagem (o Corinthians joga pelo empate no próximo domingo no Morumbi), o resultado do jogo foi bastante magro, dadas a superioridade do volume de jogo corintiano e as claras chances de gol criadas. Um placar 3x1 representaria melhor o que foi o jogo. Sem falar que, a despeito de todas as reclamações são-paulinas relativas à arbitragem, no gol de Miranda houve duas irregularidades: um empurrão que tirou o zagueiro Chicão da jogada, além da posição de impedimento em que estava o são-paulino no momento em que a bola foi lançada.

domingo, 12 de abril de 2009

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Jogos para Sempre!

sábado, 4 de abril de 2009

Futebol injusto?


Por Sérgio Marcondes

O jogo entre a seleção brasileira e a equatoriana, domingo passado, reacendeu uma discussão bastante comum no futebol: existe justiça neste esporte? O domínio equatoriano foi tão absoluto que até mesmo o patriota-mor da televisão brasileira, Galvão Bueno, foi obrigado a reconhecer, ao vivo, que uma vitória do Brasil, como ocorria até os 44 minutos do segundo tempo, seria uma das maiores injustiças da história do futebol sul-americano. E isso esteve muito próximo de acontecer!

É claro que alguns fatores técnicos podem ser invocados para diminuir a importância da justiça: a seleção equatoriana finalizou 30 vezes contra o gol brasileiro, mas poucas foram corretas; e o goleiro Júlio César teve uma atuação brilhante, fazendo pelo menos quatro defesas de grande dificuldade. Mesmo assim, é um consenso que o próprio empate brasileiro foi um resultado injusto, dada a diferença de volume de jogo e de atitude entre os dois times.

O ponto é que o futebol parece ser um dos poucos esportes em que isso ocorre. Num jogo de basquete ou vôlei, por exemplo, é quase impossível ver um jogador dizer após o jogo: "jogamos melhor, mas infelizmente perdemos, o resultado foi injusto". O resultado praticamente se confunde com o mérito e a justiça, nestes esportes. Quem foi melhor ganhou, pronto. No futebol não é assim. Por que?

A meu ver, podemos apontar dois fatores principais para esta possibilidade de falta de justiça no futebol. O primeiro é que o resultado do futebol se define por apenas um quesito, que é o número de gols: está dentro das regras do jogo que uma equipe que atacou o jogo todo, mas não conseguiu colocar uma bola dentro do gol, perca para outra que só atacou uma vez mas fez o gol nesta ocasião. E fazer um gol é bem mais difícil do que fazer uma cesta no basquete ou um ponto no vôlei, inúmeras partidas de futebol terminam sem gols ou com apenas um marcado. Nestes outros esportes, o resultado é uma soma de vários acontecimentos, e é impossível que este resultado não reflita a equipe que melhor atuou no jogo.

Além disso, o futebol apresenta uma complexidade maior, que vem do número maior de jogadores, da área maior de seu campo, das dificuldades pelo fato de que nele se usam os pés e não as mãos, etc. O número de possibilidades, de jogadas diferentes, de acasos, é muito maior, e portanto a sorte passa a desempenhar um papel mais predominante do que em outros esportes. O jogo de domingo passado também pode ser visto como um exemplo disto: enquanto o Equador chutou duas bolas na trave que depois saíram, o Brasil, no seu primeiro ataque com finalização, chutou uma bola na trave que entrou depois de bater nas costas do goleiro equatoriano, uma grande sorte indubitavelmente.

O que podemos concluir, também, é que este é um dos motivos pelos quais o futebol é o esporte mais popular do mundo e é tão apaixonante. Ao contrário de outros esportes, que criam um mundo virtual em que as leis, as regras, são incontestáveis, e o melhor vencerá sempre, no futebol há espaço para malandragens, acasos, improbabilidades, sorte, injustiça... Mas não será a vida humana assim também?

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Um camisa 10 à altura do Corinthians

por Felipe Carrilho

Douglas, dúvida para a próxima partida, vem, certamente, apresentando um desempenho muito abaixo do esperado nos últimos jogos. Depois de sofrer uma contusão e ficar de fora de algumas partidas, o meia parece não ter recuperado a boa forma e consequentemente o bom futebol. Esse fato tem rendido manifestações contrárias ao jogador nas partidas do Corinthians.

Mas, é preciso ir além dos episódios recentes para se fazer justiça ao armador corintiano. Quem compareceu assiduamente ao Pacaembu, durante a jornada do Timão na série B, testemunhou o tamanho do futebol apresentado por Douglas. Dando belas assistências e também fazendo os seus gols, a participação do meia foi fundamental para o Corinthians fazer a campanha que fez.

Se fizermos um esforço de rememoração mínimo, perceberemos que, de um ano para cá, existiu um Corinthians antes e outro depois de Douglas. Quem não se lembra do sofrimento que era ver o Timão sendo armado por "craques" como Marcel, Heverton, Acosta, entre outros? Quem se esqueceu da irregularidade de Diogo Rincón, e o quanto sofremos, por exemplo, com a desarticulação do meio-campo corintiano na final da Copa do Brasil, contra o Sport?

Douglas chegou e resolveu o problema no ano passado. No início deste ano, o meia esteve muito bem. Os espectadores da goleada corintiana sobre o Estudiantes, da Argentina, presenciaram uma exibição de gala do jogador. Depois da partida, inclusive, Ronaldo Fenômeno teceu fartos elogios ao companheiro, elegendo-o como o craque do time. E o artilheiro tinha razão. Se analisarmos o nível dos jogadores que atuam mesma posição de Douglas no Brasil, chegaremos à conclusão de que se trata de um dos melhores.

O que, então, explicaria a pressão que o armador do Corinthians vem sofrendo por parte de torcedores e de alguns críticos de futebol? Modestamente, acho que tal postura é digna daqueles que andam frequentando as numeradas ou o setor laranja do Pacaembu, o mais caro das arquibancadas. Aqueles que, conforme Renato Godoy já denunciou no texto "Corinthians de Ronaldo ou Ronaldo do Corinthians?", assistem aos jogos do Timão envergando camisas do Milan, de Berlusconi, ou do franquista Real Madrid.

Tudo começou quando, na partida de estreia de Ronaldo, contra o Itumbiara, Douglas deixou de passar a bola ao atacante, chutando em gol (a bola tirou tinta do ângulo direito do goleiro, é bom que se diga). Desde então, a opinião de tais corintianos de ocasião vem se impondo. Será que a Fiel se deixará contaminar?

quarta-feira, 1 de abril de 2009

45 minutos para garantir a vaga

Por Renato Godoy

Mano Menezes desta vez não decepcionou. Ousou na escalação do Corinthians relacionando apenas um “volante-volante” (Christian) e três atacantes. Coincidência ou não, os 45 minutos iniciais, em que o time definiu o placar de 3 x 0, tiveram grande atuação de Elias, que foi sacado no intervalo para dar lugar a Túlio.
Com a saída do camisa 7, o Corinthians ficou menos insinuante, sem saber ao certo o que fazer com a bola, apesar de tê-la em seus pés na maior parte do tempo. Tal indecisão do time gerou até vaias dos setores mais abastados do estádio. Isto quando o time já vencia por 3x0!Pela terceira vez seguida, Ronaldo atuou durante todo o jogo. A cada atuação do centroavante ficam provadas duas coisas: ele é realmente um Fenômeno e está longe de estar em forma.
O camisa 9 errou passes, perdeu bolas por falta de agilidade e finalizou com a precisão de sempre. Aliás, fez dois gols legítimos. O mais bonito, no segundo tempo, foi erroneamente anulado. Sofreu falta que deu origem ao terceiro gol e participou até de jogada bem ensaiada, colocando André Santos na linha de fundo, mas faltou a conclusão de um cabeceador. Já no fim do jogo, sem ter opções, encarou dois zagueiros, colocou a bola atrás deles e arrancou para alcançá-la novamente. Não obteve êxito, mas lembrou os velhos tempos. Com toda a falta de forma, soma 5 gols em 7 jogos. Fenômeno.
Outro “destaque” da partida foi a ausência de Douglas. Apesar de eu ser um defensor do meia corinthiano, foi visível a maior mobilidade e eficiência no meio de campo. Sem brilho ou passes geniais – como o Douglas do ano passado -, Wellington Saci deu conta da armação.
Com a classificação para a segunda fase garantida, especula-se que Mano possa escalar um time misto diante do Mirassol, no domingo. No entanto, o jogo contra o time do interior não deve ser encarado como cumprimento de tabela. Se o São Paulo vencer quinta-feira ou no domingo, o Corinthians sofre o risco de perder novamente a segunda posição. A vantagem de dois empates num eventual confronto contra o SPFC nas semifinais não pode ser desprezada.

Contrassenso
Um destaque positivo foi a presença de 21 mil torcedores no Pacaembu, mesmo no horário ridículo das 21h50. Este horário antitorcedor foi criado para adequar os interesses da emissora das novelas, no entanto, a partida desta terça não foi televisionada. Aliás, agora o canal de TV faz campanha, aos moldes do jornalismo cidadão, para que a prefeitura e o governo do Estado disponibilizem linhas para o retorno dos torcedores. Como se estivesse isenta de culpa nesse tratamento dispensado aos freqüentadores de estádios.