por Maurício Rodrigues Pinto
Ao desembarcar no RS e ser recepcionado por um pequeno grupo de torcedores que o aplaudiu, Dunga, ainda técnico da Seleção Brasileira, deu uma curta entrevista coletiva.
Em muito pouco lembrava o sujeito destemperado e agressivo de outras coletivas. Exibia orgulho pelo trabalho realizado a frente do escrete.
Normalmente, ele fala obviedades, clichês, isso quando não fala grandes absurdos. Mas, em meio as explicações sobre a desclassificação e o seu futuro profissional, Dunga falou algo que me soou muito interessante. Externou a sua preocupação em formar uma seleção que pudesse se identificar com o torcedor, o trabalhador do dia-a-dia:
“A sensação é de que um pedaço de nós ficou na África do Sul. As coisas estavam correndo bem, mas o futebol é assim. Pelo primeiro tempo que o Brasil tinha jogado, parecia que íamos passar. Na bola parada, que era um dos nossos fortes, acabamos sofrendo o gol. Mas a população viu o nosso trabalho. Tínhamos projetado resgatar esse amor à Seleção Brasileira, formar uma Seleção parecida com o povo, trabalhadora. Em alguns momentos, tivemos que ser mais duros, porque era necessário para proteger a Seleção”
Por trás desse comentário, Dunga evidencia aquilo que imagina ser a essência do futebol brasileiro, um “futebol operário”. Esse é o seu conceito de futebol brasileiro, mas parece-me um ponto de vista equivocado.
Para o brasileiro, o jogo de futebol é um momento de exceção em meio ao seu cotidiano. O futebol não é encarado como trabalho. É prazer, é lúdico, representa o momento de extravasar a magia e a fantasia reprimida.
Diferente de outras culturas, o brasileiro não quer ver um time de operários cumpridores de suas obrigações. O que constitui a identidade do futebol brasileiro é justamente o improviso, a falta de compromisso, o individualismo, exatamente o oposto do ideal de padronização que constitui o ideário do universo do trabalho.
Por tudo isso, fico com a sensação de que além de não ser uma seleção vencedora, essa é uma seleção que vai ser relegada ao ocaso, pois pouco emocionou e cativou ao torcedor brasileiro. Se vencesse, tudo seria diferente. Como perdeu, a principal reação que a Seleção vai despertar é a indiferença. Prova disso está no baixo número de pessoas que se dispuseram a ir aos aeroportos receber a assustada delegação verde-amarela.
A Charada é de Jorge
Há um ano
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