sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

ANT: uma voz contra a elitização do futebol*

Felipe Carrilho

“A religião é o ópio do povo” é uma das mais conhecidas frases de Karl Marx. Apesar da minha confessa admiração pela obra do pensador alemão, nunca consegui esconder certa ressalva em relação à sentença.

Dita isoladamente, a máxima estabelece uma regra geral para o papel social dos narcóticos e das crenças metafísicas (dito alienante), sem considerar os usos, as especificidades dos mais variados sistemas de representação mítica do universo, nem avaliá-los em perspectiva histórica.

Mas o pior acontece quando algum sabichão – geralmente metido a intelectual e esnobe – resolve adaptar a frase ao mundo da bola. “O futebol é o ópio do povo”, brada com ar de originalidade, e prossegue em sua perspicaz análise: “o Brasil não vai para frente porque o povo gosta mesmo é de pão e circo”.

Nem parece que estamos falando do esporte que um político conservador estadunidense, Jack Kemp, há alguns anos tratou de atacar de modo sintomático: “que se faça uma distinção entre o futebol norte-americano, democrático e capitalista, e o outro, europeu e socialista”. Sim, nos EUA o futebol é visto como uma atividade “suspeita”, de gente “esquerdista”.

E, como não bastassem os exemplos de resistência futebolística histórica do povo brasileiro, como da inclusão social do negro pelo exemplo de figuras emblemáticas – que vão de Friedenreich a Pelé, passando pelo goleiro Barbosa -, ou de afirmação da nossa cultura popular, com a conquista de cinco Copas do Mundo, surge agora mais um testemunho do potencial de mobilização do futebol: a ANT – Associação Nacional dos Torcedores.

Fundada há apenas um mês, dia 10 outubro, no Rio de Janeiro, a ANT é uma organização sem fins lucrativos que congrega torcedores de todos os clubes do Brasil. O objetivo geral é lutar contra a elitização do futebol brasileiro, cristalizada pela eminência da realização da Copa do Mundo de 2014 no país.

Sim, o futebol é a nossa cachaça, sem a qual ninguém segura o rojão das injustiças sociais. Abaixo, alguns tópicos, que podem ser encontrados no site da associação, e que dão conta do adversário a ser batido.

“1- A exclusão do povo brasileiro dos estádios de futebol, fruto de uma política deliberada de diminuição da capacidade dos estádios, extinção de setores populares e aumento abusivo dos ingressos.

2- O desrespeito à cultura torcedora, com a extinção de áreas populares, como a geral, onde há uma tradição própria de participação no espetáculo, que inclui assistir ao jogo de pé (o que acontece na Alemanha).

3- A falta de transparência no futebol brasileiro, há décadas nas mãos de dirigentes incompetentes e corruptos; exigimos a democratização das decisões acerca do futebol brasileiro, com a participação dos torcedores; por exemplo: as sucessivas e milionárias reformas do Maracanã, feitas sem nenhuma consulta aos torcedores.

4- A exploração politiqueira do futebol visando eleger candidatos que se aproveitam da sua popularidade para conseguir mandatos contra o povo.

5- O controle das tabelas e horários dos campeonatos na mão da rede de televisão que há décadas detém o lucrativo monopólio das transmissões televisivas de jogos de futebol; horário máximo de 20h para o início das partidas durante a semana e 17h aos domingos.

6- A retirada de comunidades de trabalhadores em nome da Copa do Mundo e das Olimpíadas.

7- A falta de meios de transporte dignos durante os dias de jogos; exigimos esquemas especiais em dias de jogos”.

Veja também esse vídeo informativo:

http://www.youtube.com/watch?v=XUsYObVtc5I

*Texto publicado originalmente no site Escrevinhador.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Unificação dos títulos: CBF é anacrônica*

por Felipe Carrilho

A decisão da CBF de unificar os títulos nacionais, considerando os disputados no período entre 1959 e 1970 é, sem dúvida, anacrônica. E não estamos empregando aqui o termo com o seu sentido cotidiano, como sinônimo de retrocesso ou de atraso. Anacronismo é, resumidamente, o movimento de transportar valores, ideias ou instituições do presente para tempos passados.

É justamente o que fez a CBF ao equiparar os títulos da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa com os do Campeonato Brasileiro, organizado a partir de 1971. Ora, dizer que o Palmeiras e o Santos conquistaram oito títulos brasileiros é o mesmo que proclamar, oficialmente, Dom Pedro o primeiro presidente da República do Brasil.

Uma coisa é discutir a história do futebol no País, valorizando os torneios do passado em correspondência com o período histórico em que foram disputados, outra é inventar um discurso histórico oficialesco com uma canetada. A memória futebolística brasileira não precisava disso.

Ademais, se fôssemos aprofundar o argumento anacrônico da entidade que rege o futebol nacional, teríamos de colocar na pauta do dia a oficialização dos vencedores do antigo Torneio Rio-São Paulo como campeões brasileiros, o que seria um absurdo ainda maior, claro, embora absolutamente coerente com a medida adotada.

Esta coluna tem procurado enfatizar as profundas relações entre futebol, sociedade, cultura e política. Mas nesse caso parece que estamos a tratar de mera politicagem. Os grandes clubes do Brasil não precisam de artifícios como esse para ver as suas glórias reconhecidas. Muito menos Pelé, depois de tantas vitórias esportivas legítimas e de todas as homenagens aos seus 70 anos de vida, precisava estampar o peito com 8 medalhas postiças, que nada mais fazem do que arranhar a sua imagem fora das quatro linhas.

*Texto publicado originalmente no site Escrevinhador.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Brasil traçado pela trajetória da bola*



*Entrevista publicada pelo jornal Brasil de Fato, edição de 9 a 15 de setembro de 2010.

Renato Godoy de Toledo
da Redação

Em “Futebol uma janela para o Brasil” o historiador Felipe Dias Carrilho relata, de maneira metafórica e metalínguística, a trajetória do futebol brasileiro. Tal qual uma partida de futebol, o livro inicia com a preleção e termina com o apito final.
De maneira didática, a obra contempla desde aficionados pelo esporte até leigos. Para o autor, o futebol é um “janela privilegiada” para observar os acontecimentos sociais e políticos do Brasil.
O historiador já colaborou com o jornal Brasil de Fato e atualmente é um dos apresentadores do programa “100 anos de história”, transmitido aos sábados pela Web Rádio Coringão.
Confira abaixo entrevista com o autor.

Em seu livro, você afirma que o futebol foi negligenciado pela classe acadêmica por muitos anos. Como você explica esse desprezo?

Acho que há dois níveis para se abordar esse problema. Por um lado, isso se deve às próprias limitações metodológicas e de abordagem das Ciências Humanas em geral. Durante muito tempo, a História, por exemplo, foi concebida como uma narrativa dos principais fatos da política de uma nação. O que interessavam eram os atos, as medidas tomadas por governantes, fossem eles reis, papas ou presidentes... Temas, como a cultura popular, ou os esportes, eram considerados menores, ou simplesmente ignorados. Isso começou a mudar na Europa a partir dos anos 1930, com a eclosão da Escola dos Annales, na França, que abriu o leque de possibilidades temáticas para a historiografia. Mas esse movimento demorou a se disseminar mesmo na Europa. Só atingiu a produção acadêmica brasileira décadas depois. Ainda hoje o futebol é um tema marginal para boa parte da nossa intelectualidade.
Por outro lado, existe uma questão intrínseca à concepção histórica do futebol. Historicamente, o futebol foi uma espécie de normatização das práticas populares de lazer, conduzida pelas elites que lideraram o processo de industrialização na Inglaterra do século XIX. Até esse ponto, se não era explorado cientificamente pela intelectualidade, ao menos tinha o seu respaldo enquanto elemento constitutivo de virtudes como a disciplina, a lealdade ou a higiene corporal. No entanto, à medida que foi se tornando popular, com a inclusão de negros e operários entre seus praticantes, o futebol passou a ser duramente criticado pelos nossos intelectuais. Rui Barbosa, por exemplo, chamou os jogadores da seleção brasileira de 1916 de “corja de malandros e vagabundos”. Até intelectuais de esquerda, como Graciliano Ramos e Lima Barreto não perceberam o potencial de mobilização do futebol, classificando-o como estrangeirismo barato.

Há momentos na história brasileira em que o futebol serve como "ensaio geral" para os acontecimentos sociais e políticos?

Nunca havia pensado nessa metáfora leninista, mas acho que pode ilustrar muito bem o futebol em alguns casos. Se pensarmos que a Democracia Corinthiana, de certo modo, antecipou o movimento das Diretas Já, é válida. Não sei, apenas, se podemos dizer que isso serve como uma teoria ou uma regra geral do futebol. O que talvez possamos afirmar é que existe algo que está na estrutura do jogo e que é rebelde na essência. Não é à toa que o futebol é muito mal visto, ainda hoje, pelos EUA. Não foram poucas as vezes em que jornalistas estadunidenses se referiram ao que eles chamam de “soccer” como um esporte de gente “esquerdista” e “pouco confiável”. Recentemente, um apresentador de televisão “parabenizou” a nação por “fazer parte, oficialmente, do terceiro mundo”, no momento em que a seleção dos EUA havia se classificado para as oitavas-de-final da Copa da África do Sul.
Não podemos desconsiderar outras questões, mas a própria lógica interna do futebol representa um desconforto à utopia neoliberal. O futebol é, por excelência, o lugar privilegiado do acaso e da incerteza, o único esporte em que o mais fraco tem sempre boas chances de derrotar o mais forte. Além disso, o futebol não pode ser quantificado... Aliás, o resultado do jogo não pode ser definido pela somatória de determinadas ações, muito diferente do que acontece no futebol americano ou no basquete.

Em "Futebol uma Janela para o Brasil" você cita o intelectual brasileiro José Miguel Wisnik que salienta que uma Copa do Mundo diz muito sobre o momento que vive o país. Na sua opinião, o que pode se inferir a partir da participação brasileira no Mundial da África do Sul?

Em geral, o historiador teme comentar fatos tão recentes, em nome de certa distância temporal crítica. Acho que, no mínimo, é possível perceber, por essa Copa, o crescimento das religiões evangélicas no Brasil (risos). Havia um número imenso de jogadores evangélicos no time, como Kaká, Elano, Felipe Melo... Mas, falando sério, acho que essa Copa mostrou claramente que não superamos, ainda, a moral disciplinadora dos tempos do amadorismo. Penso que a lógica do favor, tão presente nas problematizações sociológicas sobre o Brasil, ficou evidenciada na convocação do Dunga, que não abriu mão de nenhum de seus “homens de confiança”.

O futebol é um esporte que nasce na elite, mas depois passa a aceitar os negros e operários. Porque esse processo não foi acompanhado pela sociedade em geral?

Aí eu gostaria de esboçar uma teoria do futebol, ao menos do brasileiro. Parece-me que historicamente esse esporte funcionou como uma espécie de sublimação dos conflitos sociais do Brasil, no sentido freudiano do termo mesmo. Veja que é uma ideia muito diferente da concepção preconceituosa da “válvula de escape”, que procura enfatizar um aspecto dito “alienante” do futebol. Acho que o futebol foi um importante meio de resistência e luta dos negros brasileiros. A própria ideia de “democracia racial”, do Gilberto Freyre - que foi muito criticada por causa da persistência do racismo no país -, tem a sua melhor realização no futebol brasileiro, mais especificamente na seleção brasileira.
Não que eu esteja dizendo que não há racismo no futebol, pelo contrário. Mas acho que é no futebol, e talvez na nossa música popular, que a utopia de uma sociedade multirracial e harmônica se realiza da maneira mais promissora. E, nesse sentido, o futebol não é mero entretenimento, mas um horizonte aberto para o futuro do país.

No livro, a atuação da seleção brasileira tricampeã em 1970 é retratada quase como uma "afronta" ao que você denominou "pátria em coturnos". Na sua opinião, a prática do que convencionou-se chamar futebol arte rivalizou com a estrutura militarizada daquela delegação? Em outros termos, dá para dizer que o preterido João Saldanha já havia "contaminado" aquela equipe?

Não acho que tenha sido a figura progressista de João Saldanha o fator determinante para essa aparente contradição. Na verdade, prefiro pensar que o futebol-arte é um prodígio da nossa cultura popular, que é um fenômeno muito mais profundo do que qualquer situação política, sempre passageira por definição. Fernand Braudel dizia que a História é como o oceano, em que os fatos são representados pelas pequenas ondas e oscilações da superfície. O verdadeiro movimento da História estaria nas correntezas mais profundas do mar, nas estruturas, como a sociedade, a cultura... A cultura de um povo é um fenômeno de longa duração, como costumam dizer os historiadores. O futebol mágico apresentado pelo time de 1970 é, talvez, a expressão futebolística máxima da originalidade da formação cultural brasileira, assim como um grande disco do João Gilberto, para forçar a comparação com a música.

Ao comentar o fracasso da seleção brasileira em 2006, você cita que aquele escrete já está forjado no modelo neoliberal globalizante, já que os principais craques atuavam na Europa com salário exorbitantes. Você acredita que o individualismo (a busca de marcas individuais, como maior número de gols, maior número de partidas com a seleção etc), exacerbado pelo neoliberalismo, possa ter contribuído para aquela derrota?

O fato, em si, de a seleção ter sido derrotada não diz nada. O problema foi o time não ter correspondido a todas as expectativas e ao seu próprio potencial, não jogando bem. A cobertura midiática excessiva gerou um efeito ilusório sobre os jogadores e sobre todo o país. Sabemos que a fetichização das mercadorias é um elemento marcante do ideário neoliberal. Nesse caso, houve uma fetichização dos jogadores. O que não foi uma novidade, pois isso é uma tendência mundial há algumas décadas. É que o fracasso de 2006 foi o melhor retrato desse fenômeno.

Se o futebol nasce das elites e é praticamente dominado pelas classes mais pobres, parece haver agora um movimento inverso com uma elitização. Você aponta a realização da Copa de 2014 no Brasil como um trampolim para essa exclusão do povo dos estádios. Explique essa sua opinião.

Na verdade, a realização da Copa de 2014 no Brasil não é o motivo desse processo que está sendo chamado de elitização do futebol. A Copa é apenas o evento privilegiado para se olhar para esse processo, pois nesse momento as condições irão se acirrar, o preço dos ingressos, por exemplo, aumentará como nunca. Temos agora o Estatuto do Torcedor, que, de fato, impõe uma série de restrições a quem frequenta os estádios. No entanto, a elitização é um projeto muito velho, que está apenas se cristalizando agora. Ela é, no Brasil, fruto da profissionalização do futebol, que começou na década de 1930. Se, por um lado, a regulamentação trabalhista do jogador de futebol permitiu que setores marginalizados da nossa sociedade pudessem ser remunerados enquanto profissionais do esporte, por outro lado, isso reproduziu as condições gerias e precárias do trabalho no Brasil. Ou seja, uma pequena elite muito bem remunerada de trabalhadores parece ofuscar os rendimentos modestos da maioria. Sem falar no desemprego... No futebol isso é gritante, com as transações milionárias envolvendo nossos jogadores rumo ao futebol exterior. Não se trata, portanto, de voltar às várzeas... Para se democratizar o futebol, de fato, é preciso superar o modelo atual por meio de um projeto que leve em conta não apenas o esporte, mas a política e toda a sociedade.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Lançamento do livro Futebol: uma janela para o Brasil

Dia: 10/08
Hora: 20h
Local: Museu do Futebol (Estádio do Pacaembu)



sexta-feira, 30 de julho de 2010

Futebol: uma janela para o Brasil



Esta é a capa do livro que vou lançar. Em breve, teremos a data do lançamento.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Programa 100 anos de história, XIV



Um programa imperdível a respeito das relações entre o Corinthians e o também centenário mestre Adoniran Barbosa.

*****100 anos de história - 14ª Edição - Parte 1


*****100 anos de história - 14ª Edição - Parte 2


*****100 anos de história - 14ª Edição - Parte 3

Programa 100 anos de história, XIII

*****100 anos de história - 13ª Edição - Parte 1


*****100 anos de história - 13ª Edição - Parte 2

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Cinco breves comentários sobre a Copa

por Felipe Carrilho

1- Vuvuzela é legal. Parece-me que as críticas da classe média brasileira ao instrumento não passam do velho preconceito elitista e eurocêntrico que a caracteriza. Vamos sugerir apresentações de orquestras sinfônicas nos monumentais estádios que serão construídos no Brasil para a Copa de 2014.

2- O mesmo preconceito está na maneira como a imprensa tratou as reclamações dos jogadores sobre a famigerada bola oficial que, de fato, é muito ruim. "Quem esse bando de analfabetos pensa que é para reclamar de uma bola feita por uma empresa de material esportivo tão competente?" era a indignação mal-velada pelos cronistas. E quem irá negar que as curvas traçadas pela gorducha eram mero produto do acaso, das variações da resistência do ar ou algo do gênero, e não dependiam da destreza ou habilidade do jogador que desferia o chute? Nessa Copa, o efeito foi na verdade um defeito. O lado bom é que alguns jogos enfadonhos saíram do 0 a 0.

3- Vejo com desconfiança o crescimento de uma espécie de "argentinismo" entre os torcedores brasileiros, que ficou bastante evidente nesse mundial. Diversas matérias foram exibidas pelas mídias do país em que conterrâneos declaravam o seu amor pela seleção dos hermanos. Admiro o futebol argentino e o jogo que caracteriza a seleção que o representa, mas não acho que nossos vizinhos sejam mais apaixonados pelo futebol do que os brasileiros. São mais dramáticos, certamente. Além disso, a composição racial da seleção brasileira, se não resolve o problema do racismo em nosso país, ao menos é o que mais se aproxima da realização, na cultura popular, do que gostaríamos de ter no plano social, uma nação em que a diferença representa o seu principal trunfo. Por isso prefiro o futebol brasileiro.

4- A Copa de 2010 foi um palco privilegiado da superstição, e Maradona, Mick Jagger e o polvo Paul foram os seus principais protagonistas, cada um ao seu modo. Algo paradoxal em um mundo tão pragmático e afeito à frieza matemática dos negócios. Até o técnico alemão Joachim Löw, da Alemanha filosófica e do materialismo histórico de Karl Marx, rendeu-se ao poder metafísico de sua camisa azul. O futebol, apesar dessa modernidade toda, parecer nos colocar em contato com o sagrado primitivo, de um tempo em que jogo e religião confundiam-se.

5- A final da Copa foi melancólica para os brasileiros, mesmo com as emoções provocadas por um gol de título feito no segundo tempo da prorrogação. A Holanda tem um time competente, com alguns bons jogadores. A Espanha é e foi superior na partida e mereceu a vitória. Mas acho que ambas as seleções, juntas, não estão à altura de uma final de Copa do Mundo. E talvez esse último comentário seja resultado de uma simples dor-de-cotovelo.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Programa 100 anos de história, XII

*****100 anos de história - 12ª Edição - Parte 1


*****100 anos de história - 12ª Edição - Parte 2

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Uma questão de conceito

por Maurício Rodrigues Pinto

Ao desembarcar no RS e ser recepcionado por um pequeno grupo de torcedores que o aplaudiu, Dunga, ainda técnico da Seleção Brasileira, deu uma curta entrevista coletiva.
Em muito pouco lembrava o sujeito destemperado e agressivo de outras coletivas. Exibia orgulho pelo trabalho realizado a frente do escrete.
Normalmente, ele fala obviedades, clichês, isso quando não fala grandes absurdos. Mas, em meio as explicações sobre a desclassificação e o seu futuro profissional, Dunga falou algo que me soou muito interessante. Externou a sua preocupação em formar uma seleção que pudesse se identificar com o torcedor, o trabalhador do dia-a-dia:

“A sensação é de que um pedaço de nós ficou na África do Sul. As coisas estavam correndo bem, mas o futebol é assim. Pelo primeiro tempo que o Brasil tinha jogado, parecia que íamos passar. Na bola parada, que era um dos nossos fortes, acabamos sofrendo o gol. Mas a população viu o nosso trabalho. Tínhamos projetado resgatar esse amor à Seleção Brasileira, formar uma Seleção parecida com o povo, trabalhadora. Em alguns momentos, tivemos que ser mais duros, porque era necessário para proteger a Seleção”

Por trás desse comentário, Dunga evidencia aquilo que imagina ser a essência do futebol brasileiro, um “futebol operário”. Esse é o seu conceito de futebol brasileiro, mas parece-me um ponto de vista equivocado.
Para o brasileiro, o jogo de futebol é um momento de exceção em meio ao seu cotidiano. O futebol não é encarado como trabalho. É prazer, é lúdico, representa o momento de extravasar a magia e a fantasia reprimida.
Diferente de outras culturas, o brasileiro não quer ver um time de operários cumpridores de suas obrigações. O que constitui a identidade do futebol brasileiro é justamente o improviso, a falta de compromisso, o individualismo, exatamente o oposto do ideal de padronização que constitui o ideário do universo do trabalho.
Por tudo isso, fico com a sensação de que além de não ser uma seleção vencedora, essa é uma seleção que vai ser relegada ao ocaso, pois pouco emocionou e cativou ao torcedor brasileiro. Se vencesse, tudo seria diferente. Como perdeu, a principal reação que a Seleção vai despertar é a indiferença. Prova disso está no baixo número de pessoas que se dispuseram a ir aos aeroportos receber a assustada delegação verde-amarela.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Programa 100 anos de história, XI

Nessa edição, estávamos muito inspirados e o programa durou 2h45mim. Então, dividimos em duas parte. Clique e ouça!





terça-feira, 15 de junho de 2010

Programa 100 anos de história, X

Nada menos do que a 10ª edição do programa. E ficou à altura da marca.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Programa 100 anos de história, IX

Não perca, amanhã, o 10º capítulo. Às 15h15, na Rádio Coringão.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Programa 100 anos de história, VIII

A fase de ouro nos anos 1920 em que o Corinthians se consolida como gigante do futebol.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Programa 100 anos de história, VII

Uma história do distintivo corinthiano.



Programa 100 anos de história, todo sábado a partir das 15h, na Rádio Coringão>.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Programa 100 anos de história, VI

Neste programa, um pouco sobre as sedes do Corinthians ao longo da história e a luta de seu povo para construí-las e mantê-las. Do Bom Retiro ao Parque São Jorge, passando pela Ponte Grande.

NÃO PERCA, neste SÁBADO, a partir das 15h, o VII PROGRAMA, que tratará da história dos ESCUDOS do TIMÃO, na RÁDIO CORINGÃO.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Eles ainda mandam no futebol

por Felipe Carrilho

Está nos jornais de hoje. A FIFA finalmente colocou um ponto final na paradinha. A proibição entrará em vigor com o início da Copa do Mundo.

Em setembro de 2009, fiz uma reflexão sobre o tema, que pode ser lida aqui.

A ideia original do texto foi mostrar que existe um embate muito mais profundo do que um simples modo de bater um pênalti pode parecer despertar. Uma lida atual confirmou, pelo menos para mim, a pertinência do artigo.

Ficam a indicação e o convite ao debate.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Programa 100 anos de história, V

Neste programa, discutimos a primeira década da história do Corinthians, momento em que o clube começa a desnudar a face verdadeiramente popular do futebol brasileiro.

Não perca neste sábabo, a partir das 15h, o sexto programa, na Rádio Coringão.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Dunga, para o mal e para o bem


por Felipe Carrilho

A convocação de Dunga para a Copa suscitou enorme polêmica, não apenas por causa da lista de jogadores selecionados, mas também pela postura do treinador durante a entrevista coletiva.

Tenho muitas críticas a fazer em relação às duas questões. Sobre a lista, por exemplo, embora goste do conceito de coerência, como a maioria das pessoas (torço), acho que Dunga o confundiu com o de conservadorismo em alguns momentos. Por mais que seja razoável manter uma base de confiança, nada explica a convocação de Kleberson, o jogador mais sortudo da história do futebol. Os seus feitos no longínquo ano de 2002 e seu frágil desempenho atual, tanto sob o comando de Dunga, como no seu clube, não o credenciam a ser considerado um “homem de confiança” de nenhum técnico. Não seria incoerente, nesse caso, trocar a indolência pela promessa representada por Paulo Henrique Ganso. Seria um ato de coragem. Outros nomes ou posições, como Júlio Baptista, Elano, Josué ou a lateral-esquerda, respectivamente, também poderiam ser alvo de questionamentos, menos graves, em minha opinião.

Em relação à postura de Dunga, as restrições se multiplicam. Desde a primeira pergunta (educadamente global, diga-se), passou a atacar toda a imprensa, sem demonstrar a frieza sugerida pelo cargo que ocupa. Com isso, ao invés de convencer a população das razões de seu projeto, acirrou as desavenças entre o torcedor e a seleção. Como disse o Maurício ontem – entre cervejas e cachaças – parece que o time é do Dunga, não do Brasil. Nada que faça com que a maioria dos brasileiros não torça pelo selecionado na Copa, claro. Mas agora – ainda mais – as pedras já estão nas mãos da crítica, antes mesmo de um possível fracasso.

Dunga cometeu, ainda, seus maiores deslizes quando se aventurou em temas que extrapolam as quatro linhas. “Minha mãe era professora de História e Geografia e me ensinou a ser patriota”, foi uma das infelizes frases que disse, e que ilustra muito bem o uso político que se pode fazer da seleção brasileira (e se fez muitas vezes na história) em momentos de Copa do Mundo. Mas a sua colocação mais nefasta foi aquela em que relativizou os malefícios da escravidão e da ditadura civil-militar para a história do Brasil: “não sei se foram ruins, eu não estava lá”. Num tempo em que o Supremo Tribunal Federal decidiu não punir os torturadores da ditadura, a frase do treinador é emblemática.

Entretanto, apesar de todas as críticas expostas aqui, gostaria de levantar um ponto positivo fundamental. Concordo com Dunga quando ele fala em sangue e suor. Não existe grande conquista sem sacrifício. Não só o fracasso da seleção de 2006 apontou para isso – o que o treinador não cansa de repetir – mas a recente eliminação do Corinthians na Libertadores foi um exemplo recente dessa sentença. Nas duas ocasiões, os elencos badalados e o comando "estratégico" dos treinadores mostraram-se insuficientes. É claro que não cabe suar nem sangrar pela pátria em uma Copa do Mundo (e talvez em nenhuma situação), mas para honrar uma das mais respeitáveis escolas de futebol, como a brasileira, é preciso vontade, gana e prazer. Dunga está prometendo todos esses ingredientes e esse é o maior acerto do treinador.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Mais Corinthians


por Felipe Carrilho

Ontem, por uma questão profissional, eu estava revirando ainda mais o caos do meu armário, à procura de alguns documentos, quando encontrei certo recorte de jornal. Tratava-se de um artigo de autoria de José Geraldo Couto datado de 2006, que comentava a heroica vitória do Corinthians sobre o Universidad Católica do Chile pela Libertadores daquele mesmo ano.

Para quem não se recorda, foi um jogo absolutamente épico: O Corinthians sofreu um gol irregular no começo do jogo, virou ainda no primeiro tempo, mas cedeu o empate. Depois do intervalo, teve dois jogadores expulsos, mas, ainda assim, reuniu forças para vencer a partida com um belíssimo gol no final.

No dia seguinte, ao acompanhar a cobertura dos jornais, recortei e arquivei, emocionado, o artigo, que me pareceu, à época, traduzir muito bem a alma corinthiana. Quatro anos depois, uma leitura mais distanciada e fria confirmou aquelas impressões originais e, às vésperas do jogo decisivo contra o Flamengo, considero importante recuperar algumas daquelas reflexões, que seguem:

Poucas vezes um time de futebol esteve tão adequadamente à altura de sua mística.

Um time ao mesmo tempo poderoso e vulnerável, como um boxeador que sempre perde ou ganha por nocaute. A vitória por pontos é para os seguros, os frios, os comedidos. Para o bem ou para o mal, o Corinthians é puro fogo.

O conforto na tabela, o torneio vencido com rodadas de antecipação, a campanha mais regular – a vida fácil, em suma – são coisas que não combinam com o caráter do Corinthians, pelo menos do Corinthians forjado na ‘longa fila’ de 1954 a 1977.

No jogo de amanhã, temos de retomar a verdadeira mística corinthiana, pois não perdemos a primeira partida porque fomos “puro fogo”, ou porque o time esteve “ao mesmo tempo poderoso e vulnerável”. Fomos derrotados por excesso de frieza e comedimento, reféns de um pragmatismo doentio e nada corinthiano.

O planejamento é algo importante no futebol, sem dúvidas. Ele deve falar mais alto na hora de contratar jogadores, de cuidar da preparação física, estabelecer horários e estratégias de treinamento, elaborar um esquema de jogo adequado etc. Porém, quando se entra em campo, é hora de colocar tudo isso em prática com o coração!

Como se sabe, o futebol, mais do que qualquer outro esporte, é o espaço privilegiado do acaso, da contingência. Não será imperdoável perder amanhã. Será imperdoável perder sem ser Corinthians! É preciso retomar o espírito da várzea, onde o Corinthians começou a revolucionar o futebol brasileiro. É necessário jogar como jogamos em 1976, 77, 90, com o espírito guerreiro de São Jorge e de Ogum. Sejamos mais corinthianos amanhã e venceremos!

VAI CORINTHIANS!!!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O elogio ao mata-mata

por Maurício Rodrigues Pinto

Acabo de ler o texto "O jogo de bola", no blog de Flávio Gomes.
Estimulado pela grande decisão do Campeonato Paulista, Gomes faz um elogio ao mata-mata e critica a "racionalidade" da fórmula dos pontos corridos.
Diante dos argumentos expostos, recordo-me que, de fato, era muito mais legal acompanhar os Campeonatos Brasileiros que tinham finais.
A leitura é altamente recomendada.

Programa 100 anos de história, IV

A trajetória do Corinthians na várzea e sua contribuição para a popularização do futebol.

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segunda-feira, 26 de abril de 2010

O prazer do gol

por Maurício Rodrigues Pinto

É atribuída a Romário a frase em que compara o gol ao orgasmo. Não sei se ele disse isso mesmo, mas, de fato, o gol representa um dos momentos mais sublimes do futebol. Seja em uma partida profissional ou em uma pelada de rua. E quando esse gol é um golaço ou um gol decisivo, a sensação de prazer é muito maior.
Muita gente critica os garotos santistas de falta de espontaneidade no momento de comemorar um gol. Eu discordo, acho que as danças e coreografias revelam uma faceta da alegria que o time demonstra ao jogar futebol.
Mas, para mim, nenhuma comemoração de gol no ano supera a do ótimo jogador holandês Arjen Robben, principal destaque do Bayern de Munique na campanha do time na Liga dos Campeões.
O gol marcado por Robben tem os dois atributos citados acima: golaço e decisivo. A comemoração é quase que minimalista. Não há gestos, movimentos espalhafatosos. Mas na expressão e nos gestos do holandês estão presentes a surpresa por ter acertado um voleio com rara felicidade e um indisfarçável (porém sutil) ar debochado diante da grande maioria de fanáticos torcedores do Manchester United.
Cabe dizer que o gol valeu a classificação do Bayern à semi-final da Liga dos Campeões, eliminando a equipe que era tida como uma das principais favoritas. Isso sem contar que representou uma vingança à derrota sofrida pelo Bayern nos segundos finais na final da Liga de 1999.

O gol e a comemoração de Robben:

Agora quem dá a bola é o Santos



por Maurício Rodrigues Pinto

Há tempos penso no que escrever e dizer sobre o atual time do Santos. Esbocei algumas linhas depois da vitória do Santos sobre o Corinthians, por 2 a 1. Comparei esse time ao de 2002, que também superou o Timão na final e que revelava dois garotos com status de craques: Robinho e Diego.
Quase oito anos depois, o Santos forma um time que também tem como principais referências dois garotos formados na categoria de base do clube, Neymar e Ganso. Coincidentemente, um atacante driblador e um meia armador clássico.
Em meio a tantas coincidências, um dos grandes diferenciais do time atual está no banco de reservas. Dorival Junior é um treinador muito bom. Em pouco tempo, conseguiu armar um time competitivo, ofensivo, que joga de forma vertical e concilia essas características a um jogo vistoso, alegre. Não sei se a decisão foi consciente, mas diferente de técnicos como Muricy – que mesmo contando com jogadores de qualidade, habituou-se a simplificar ao máximo a forma de jogar de seus times em nome das vitórias –, Dorival mostra que sabe como explorar as características e qualidades dos jogadores que tem a disposição.
Mais do que isso. Reconheceu que Ganso e Neymar são jogadores de nível bem diferenciado, deu a confiança e o respaldo necessários para que os dois jovens assumissem a responsabilidade de serem os líderes do time. Daqueles capazes de transformar e elevar o rendimento de jogadores tidos como medianos.
Mesmo com a chegada do maior ícone do time de 2002, a estrutura manteve-se consolidada e Robinho soube que nesse grupo lhe cabe, no máximo, o papel de (ótimo) coadjuvante.
Em meio a times que fazem um placar e preferem se “poupar”, segurando o resultado conquistado, a versão 2010 dos “Meninos da Vila” busca, a todo o momento, jogar futebol, o que pode ser notado tanto nas derrotas, como nas goleadas. As vezes joga tanto que a preocupação do adversário limita-se em tentar frear o volume da equipe santista. A cada gol marcado, a cada drible, jogada ofensiva, o Santos faz desabar a confiança de adversários.
O placar de 3 a 0 refletiu a diferença que existe no momento entre os times de Santos e São Paulo. Os gols saíram apenas no 2º tempo, mas durante todo o jogo, a equipe santista jogou buscando não só a vitória. Não se conformou com a vitória já garantida. Seguiu pressionando, seguiu marcando, seguiu buscando gols, enfim, seguiu jogando futebol.
No cenário atual marcado pelos discursos de “especialistas da bola” sobre o condicionamento físico dos jogadores, rodízios, esquemas táticos, entrosamento do time, planejamento para a temporada, profissionalismo em campo, a principal contribuição desse time do Santos dá ao atual futebol brasileiro é a de colocar em xeque alguns desses “mitos”. É fazer do futebol um jogo alegre (e porque não, irreverente), jogado de forma intensa durante os seus 90 minutos. A forma de jogar a qual o brasileiro estava quase se desacostumando. Mas que, infelizmente, não será o que veremos na África do Sul, representando as cores brasileiras.

Ps.: Para mim, que não sou torcedor santista, a conquista de títulos tem muito pouco peso nessa minha análise. Na minha opinião, esse Santos já deixou o seu legado para o futebol brasileiro. Exceto os lances proporcionados pela dupla Romário e Bebeto, o gol de falta de Branco e a decisão por pênaltis na final, será que é possível lembrar de muitos momentos marcantes da Seleção em sua campanha na conquista da Copa de 1994? E porque será que lances e lances da seleção de 1982 povoam até hoje o imaginário, mesmo daqueles que não viveram ou viram aquela Copa?

Ps. 2: O texto foi redigido no sábado, mas estou o postando na segunda, depois da primeira partida da final entre Santos e Santo André. Não vi o jogo, mas posso afirmar uma coisa: o Ganso é craque! Diferenças a parte, ele me lembra o Zidane, na capacidade de faz lances geniais, como se não fizesse muito esforço, com uma simplicidade absurda. No primeiro gol, ele supera três adversários sem dar um drible sequer e coloca a bola na cabeça de André.

Programa 100 anos de história, III

Nesse programa, analisamos as relações entre São Jorge, o santo guerreiro, Ogum, o orixá da guerra, e o Corinthians.



segunda-feira, 19 de abril de 2010

Programa 100 anos de história, II




Uma história do futebol, dos primórdios até a formatação inglesa no século 19. O surgimento do Corinthians e seus significados para a trajetória desse esporte no Brasil.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Programa 100 anos de história, I

Sábado passado (03/04), tive a honra de participar do programa "100 anos de história", da Rádio Coringão. Os idealizadores do projeto são o Ginaldo Vasconcelos e o Filipe Gonçalves.
Neste programa, um pouco do que representa o "Corinthianismo", a "Mística Corinthiana".




domingo, 21 de março de 2010

Alô, alô! No ar a Rádio Coringão!*


por Felipe Carrilho

Quem estava acostumado a assistir às demonstrações de fidelidade da torcida do Corinthians nos estádios do Brasil talvez não imaginasse que essa devoção poderia extrapolar as arquibancadas. Mas os torcedores corintianos foram os responsáveis pelo surgimento da Rádio Coringão, o único veículo oficial via internet entre os três principais clubes da capital paulista: Corinthians, Palmeiras e São Paulo.

Localizada no bairro do Tatuapé – zona leste da cidade –, na rua Vargem Grande, 32, a Rádio Coringão possui uma equipe de quinze pessoas, entre profissionais e colaboradores fixos. São apresentadores, comentaristas, repórteres e até humoristas, todos dispostos a seguir bem de perto os passos do Timão. O seu endereço eletrônico é www.radiocoringao.com.br.

A página oficial do Corinthians na internet (www.corinthians.com.br) também disponibiliza um link para a Rádio Coringão. A associação com o clube paulista é o grande trunfo da web rádio e garante a sua popularidade. Com 6,1 milhões de acessos ao ano, o site do Corinthians está entre as 20 páginas de clubes mais acessadas do mundo, segundo o Futebol Finance (um site voltado para as finanças do futebol). Em atividade desde dezembro de 2009, a Rádio Coringão já alcançou a média de 15 mil ouvintes por dia. Os picos de audiência são registrados durante as transmissões dos jogos e na programação das 20h30 e podem chegar a 25 mil ouvintes.

Para se ter uma ideia da difusão da emissora corintiana, em 2009, a Rádio Globo divulgou o seu próprio recorde de audiência on line: 53 mil ouvintes, durante um jogo da Copa Libertadores. Levando-se em conta o poder de propagação da emissora carioca – que disponibiliza links no site Globoesporte.com e faz chamadas e atualizações via Twitter – é possível perceber que a diferença entre a sua audiência e a da jovem rádio corintiana não é tão grande assim.

Esse empreendimento começou quando o jornalista Ricardo Taves cansou-se dos problemas técnicos de uma web rádio corintiana não oficial em que trabalhava e resolveu contratar um provedor, criando a Rádio Coringão. Na sequência, alguns corintianos como Douglas Stephens, Lessandro Vendrami, Eric Rodrigo e Ginaldo de Vasconcelos Filho juntaram-se ao projeto e cederam as suas economias para a compra dos equipamentos necessários a uma transmissão profissional via internet.

“Já com a estrutura montada, transmitindo jogos e com uma programação completa, conversei com o doutor Sergio Alvarenga, diretor jurídico do Corinthians, que nos colocou em contato com o Departamento de Marketing. Marcamos uma reunião com Alex Watanabe, que gostou do projeto. Apresentamos, novamente, para Caio Campos e Luis Paulo Rosemberg. Pronto. Estava firmada a parceria e nascia a Rádio Coringão”, relata Ginaldo de Vasconcelos Filho, engenheiro formado pela Escola Politécnica, sócio da web rádio e um de seus apresentadores.

Em troca do uso de seu nome, o Corinthians recebe da rádio parte dos rendimentos obtidos com os patrocinadores. A Rádio Coringão está no ar 24 horas e possui uma programação bastante abrangente. Debates sobre a rodada do fim de semana, bastidores do clube e entrevistas com personalidades são os elementos que, combinados com criatividade e muito “corintianismo”, compõem a grade fixa de programas do veículo.

A história dos grandes feitos do Corinthians dentro das quatro linhas – com narrações de época de jogos memoráveis e homenagens a jogadores do passado – fica sob a responsabilidade do programa Apenas Corinthians, comandado pelo apresentador Eric Rodrigo e pelos comentaristas André Rubio, Fabio Gomes e Ginaldo.

Fruto do esforço coletivo de alguns torcedores, a Rádio Coringão encontra um terreno fértil para crescer e alcançar ainda mais ouvintes em 2010. No ano do seu centenário, o Corinthians disputa a tão almejada Copa Libertadores da América, contando com um grande elenco e craques midiáticos como Roberto Carlos e Ronaldo. “Eu assisti, em campo, as últimas cinco eliminações do Corinthians na Libertadores, mas me considero pé-quente mesmo assim, pois me lembro de pelo menos onze títulos que presenciei nos estádios. O meu lema de torcedor se mistura com o da rádio: ‘Com o Corinthians onde ele estiver’”, vibra Ginaldo.

* Texto publicado na edição de 19/03/2010 do jornal Diário do Comércio.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Relembrando 2002...



por Maurício Rodrigues Pinto

Ontem, vendo o jogo Corinthians e Santos, me senti voltando no tempo. Era como se estivesse em 2002, vendo um dos confrontos entre Corinthians e Santos.
Só para recordar, no segundo semestre de 2002, Corinthians e Santos jogaram quatro vezes. O Santos venceu as quatro com franca superioridade. O Corinthians, no primeiro semestre de 2002, havia ganhado os títulos do Rio-São Paulo e Copa do Brasil e contava com a mesma base para a disputa do Brasileiro. Era tido como o melhor time do Brasil do momento. O Santos havia demitido Celso Roth e contratado o técnico Leão com a incumbência de formar um que contava com atletas “renegados” e apostas da categoria de base.
Antes do Brasileiro, em um amistoso na Vila Belmiro, o Santos ganhou do Corinthians por 3 a 1. Lembro que foi o último jogo do Ricardinho pelo Corinthians, antes da sua transferência para o São Paulo. Mas o mais relevante daquele jogo que ali se esboçava o time comandado pelos “meninos da Vila” Diego e Robinho – naquela época Diego, um ano mais jovem, tinha muito mais cartaz.
O resto dessa história é muito bem conhecido por todos e teve como momento ápice as pedaladas de Robinho ante um perdido Rogério (é curioso pensar que esse lance marcou tanto Rogério, que ele nunca mais conseguiu jogar em alto nível).
Pois bem, vendo o jogo de ontem reportei-me para 2002. O Santos, time insinuante, de vocação ofensiva e futebol vertical, novamente, liderado por meninos. Ganso e Neymar, as jovens promessas santistas do momento, são craques muito bem assistidos por jogadores medianos. Exemplo disso, ontem, a bela partida de Marquinhos. O Corinthians, equipe experiente, que, esse ano, pratica um futebol mais baseado na posse e troca de bolas. Nos dois jogos que o time tinha feito este ano (sim, efetivamente o Corinthians só jogou esse ano contra Palmeiras e Racing), jogou dessa forma. Mas ontem a forma de jogar corinthiana não se impôs ao futebol santista.
O Santos nem fez a sua melhor partida, não mostrou o futebol deslumbrante de outras partidas. Mas parece ser um time que consegue aliar a magia à competitividade. Neymar, parecia ter murchado com o pênalti perdido, mas foi preciso ao converter o primeiro gol (matada no peito e conclusão perfeitas) e ao dar assistência para André fazer o segundo - outro jovem da base que joga ótimo futebol. Ganso, se não foi brilhante, mostra ser um senhor jogador, conseguindo fazer bem todas as funções do meio-campo santista.
O time do Corinthians, durante boa parte do jogo, parecia perdido, com os nervos a flor da pele. Por mais que a atuação do juiz tenha sido ruim, impedindo que o jogo fluísse, o descontrole e as reclamações foram exageradas. Fico com a impressão de que tal destempero foi motivado muito mais pela incapacidade de conseguir conter o futebol santista. Deve ser ressaltado o bom futebol jogado por Dentinho, as defesas de Felipe e o brio da equipe que, em momento algum, desistiu ou deixou de lutar. Tanto que, com dois a menos, teve chance claríssima de empatar, mas Tcheco foi (muiiiito) infeliz na conclusão.
É muito provável que outros confrontos importantes entre essas duas equipes aconteçam em 2010. A minha expectativa é de que as semelhanças com 2002 desapareçam nos próximos confrontos. Mas confesso um certo alívio por ver que este Santos não disputa a Libertadores deste ano...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Nasceu Sofia


Essa aí é minha filha Sofia, que nasceu no dia 18 de janeiro do ano do centenário, mesmo dia em que, no ano 1953, vencemos a porcada por 6x4. Aliás ela já nasceu quebrando tabus, pois vencemos o último clássico. Cheiro de Liberta no ar.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Personalidades do futebol brasileiro em... 2009

por Maurício Rodrigues Pinto

Há tempos que não frequento esse espaço. Sou tão atrasado que decidi postar, apenas agora, 13 de janeiro de 2010, a minha seleção de personagens do futebol brasileiro em 2009. Mas acho que ainda é pertinente fazê-lo.
Considero, apenas, os jogadores que atuaram no futebol brasileiro. Diferente das eleições de melhores jogadores divulgadas no final do ano, essa lista não busca apresentar quem foi melhor, mas, sim, destacar os personagens que nos fazem superar o olhar “técnico”, focado no jogo nas quatro linhas. Figuras que, de alguma maneira, contribuíram para o espetáculo do futebol, um jogo fantástico, capaz de despertar tantas emoções inexplicáveis.
Digo, de antemão, que não aceito qualquer crítica por uma suposta predileção carioca... rs

Goleiro: Marcos. Depois de muito tempo e especulações sobre aposentadoria, Marcos teve um ano intenso. Frangou, meteu a boca nos companheiros, na diretoria, na imprensa, foi mais carismático do que nunca, mas acima de tudo, pegou muito e voltou a ser o “São Marcos”. Se o Palmeiras não fraquejou antes, deve muito a personalidade e às defesas do Santo. O momento ápice foi diante do Sport, em Recife, quando defendeu três pênaltis.

Laterais: Pensei, pensei... e quer saber nenhum lateral direito ou esquerdo merece destaque. Uma posição que está cada vez mais caracterizada pela mediocridade, falta de talento e imaginação. Além do baixo nível técnico, os laterais-alas também tem se revelado personagens pouco expressivos. Ao ponto do preguiçoso e insosso Kleber ser eleito, mais uma vez, pelos especialistas o melhor lateral-esquerdo do Brasileiro. André Santos, atual titular da Seleção, depois da boa passagem pelo Timão,obscureceu-se no Fenerbahce e só voltou a ser notícia após suposto envolvimento em orgia sexual... Sendo assim, o personagem das laterais é o vazio que existe nessas posições, atualmente, as mais carentes do futebol brasileiro.

Zagueiros: Dupla Fla-Flu. Nenhum deles se notabiliza pela técnica, mas sim pela vontade, superação e importância em momentos decisivos.
Gum, veio da Ponte sob imensas desconfianças. Chegou no meio do campeonato, quando o Flu apelou para contratações desesperadas, tentando a fuga do rebaixamento. A coisa só piorava e Gum, recém-chegado, foi perseguido pela torcida. Mas na arrancada do Flu, foi figura importante. Marcou gols, defendeu com raça e se tornou símbolo da recuperação tricolor, ao marcar o gol da classificação a final da Sul Americana, mesmo com a cabeça lesionada.
Ronaldo Angelim. Por pouco, no início do ano, viu-se obrigado a abandonar o futebol por conta de uma grave infecção. Discreto e pouco falante, por muito tempo, foi o zagueiro que jogava ao lado do capitão e líder Fabio Luciano. Com a aposentadoria do capitão, assumiu a condição de principal jogador da zaga e tornou-se uma referência do time rubro-negro. E na última partida, marcou o gol que deu o título brasileiro ao Flamengo, tornando-se o novo “Deus da Raça” rubro-negro.

Volantes: Um jogador que se apóia no futebol para superar frustrações e tragédias pessoais, merece destaque. Ainda mais quando é um dos principais jogadores em sua posição. Pierre é um dos principais marcadores do futebol brasileiro e, além das dificuldades pessoais, teve um ano profissionalmente muito complicado. Lesão grave, perda de um título que era tido como ganho, perda de uma classificação a Libertadores dada como certa... Ainda assim, foi destaque do Palmeiras e um dos poucos que, ao manifestar a sua decepção com a performance, merece o crédito e respeito do torcedor palmeirense.
O outro é o argentino Guiñazu. No time das amareladas, foi o único profissional digno de méritos. Dedicado e lutador em campo, foi o único que não chorou pela derrota na Copa do Brasil. Ao contrário, mostrou serenidade ao reconhecer que o Inter perdera para uma equipe que foi superior. As especulações de uma possível ida ao Tricolor, no início deste ano, não apagam o que Guiñazu tem feito desde que veio jogar no futebol brasileiro.

Meias: Diego Souza foi considerado em uma premiação o melhor jogador do campeonato. Óbvio que não o foi e ele mesmo deve reconhecer isso. Entra nessa seleção, pois nenhum jogador representou tão bem o que o Palmeiras foi no campeonato. O Palmeiras liderava e Diego jogava grande futebol. Assim, como o time, parece que não soube lidar bem com o sucesso. Foi a seleção e não repetiu mais as grandes atuações. O Palmeiras, também, não suportou a pressão de ser o grande favorito ao título e fraquejou. Nessas partidas, Diego pouco apareceu e de herói e candidato a ídolo passou a amarelão e mercenário. Por isso, ninguém melhor do que ele encarna a trajetória do Palmeiras nessa temporada.
O outro é aquele que mereceria a honraria de craque do Brasileiro. O sérvio Petkovic foi dado como aposentado e retornava ao ex-time por meio de um acordo para pagamento de gigantesca dívida trabalhista. Parecia que seria mais uma exibição de jogador “aposentado em atividade”. Tudo isso deve ter motivado muito Pet, pois ele jogou muito em partidas contra rivais diretos, especialmente, contra São Paulo e Palmeiras, faria qualquer um desconfiar que se tratava de um jogador de 37 anos, com mais de um ano de inatividade. Foram essas vitórias que fizeram com que o Flamengo se convencesse de que poderia ser campeão. Por isso, foi o jogador mais decisivo para essa conquista.

Atacantes: Dois “medalhões”
O primeiro é Fred. Chegou com pompas de craque e com discurso de retorno a Seleção. A temporada era horrorosa, o futebol pequeno em comparação ao altíssimo salário. Ainda mais em um time dividido em que boa parte dos atletas, que tem contrato com o clube, não recebem em dia. Durante a recuperação de grave lesão muscular, aumentavam os boatos de que Fred era assíduo freqüentador da noite carioca e que padecia de problema semelhante ao enfrentado por Adriano, em Milão. Até surfando, teria sido visto durante a recuperação e com o time segurando a lanterna. Mas... voltou ao time no pior momento possível, praticamente rebaixado e comandou a arrancada tricolor, marcando em praticamente todos os jogos. Conseguiu reverter a imagem e assumiu a condição de líder do elenco.
Forma esse ataque o Imperador. Só por ter simplesmente abandonado aquilo que muitos considerariam um paraíso, em nome da felicidade no mundo que lhe fazia sentido, Adriano mereceria destaque. Mas depois da curtíssima aposentadoria, gozando de todas as regalias, retornou ao time que o projetou, voltou a ser o artilheiro de potente chute com a perna esquerda e foi muito importante na conquista do título brasileiro pelo Flamengo.

Técnico: Poderia ser Andrade, eterno interino que se tornou o primeiro treinador negro a ser Campeão Brasileiro. Mas nenhum treinador viveu tantas emoções como Cuca em 2009. Finalmente campeão com o Flamengo, permaneceu pouco tempo no cargo, sendo praticamente escorraçado por todo o elenco. Para piorar, ele reaparece no praticamente rebaixado Flu. Início pouco promissor, mas aí veio a arrancada com um Flu jogando de forma comovente... Um vice comemorado da Sulamericana, a permanência na Série A. Sem dúvida, essa façanha foi a maior conquista da sua carreira.

Time: Dia 01/11/2009. Último colocado do campeonato enfrenta o time de melhor campanha no segundo turno na sua casa. Estádio cheio. Primeiro tempo 2 x 0 para o time da casa. Podia ter sido 5. O técnico do time que perde, na volta ao segundo tempo, parece desanimado e sem saber o que fazer. Disse que só não esperava ver o time fazer um vexame.
Aquela derrota, há cinco rodadas do final do campeonato, praticamente condenava o Flu ao rebaixamento. Mas aquele jogo simbolizou o que foi a recuperação tricolor. Inesperada, surpreendente, improvável e, acima de tudo, empolgante. Fred marcou dois e liderou a virada diante do Cruzeiro. A partir dali, via-se em campo um time que jogava pelo tudo ou nada. E só ganhou. Garantiu a permanência na Série A, reconquistou a confiança do seu torcedor e teve a torcida de praticamente todos aqueles que são amantes do futebol.
Os campeões do ano foram Corinthians e Flamengo, mas duvido que qualquer um deles tenha sido capaz de suscitar tantas emoções, desafiar tanto o Sobrenatural de Almeida, como o Flu, de Nelson Rodrigues.

Para finalizar...

Personagem do ano no futebol brasileiro: Quem mais poderia ser??? Ronaldo! Por quê?? Porque é Fenômeno e brilhou muito no Coringão... rs