sábado, 4 de abril de 2009

Futebol injusto?


Por Sérgio Marcondes

O jogo entre a seleção brasileira e a equatoriana, domingo passado, reacendeu uma discussão bastante comum no futebol: existe justiça neste esporte? O domínio equatoriano foi tão absoluto que até mesmo o patriota-mor da televisão brasileira, Galvão Bueno, foi obrigado a reconhecer, ao vivo, que uma vitória do Brasil, como ocorria até os 44 minutos do segundo tempo, seria uma das maiores injustiças da história do futebol sul-americano. E isso esteve muito próximo de acontecer!

É claro que alguns fatores técnicos podem ser invocados para diminuir a importância da justiça: a seleção equatoriana finalizou 30 vezes contra o gol brasileiro, mas poucas foram corretas; e o goleiro Júlio César teve uma atuação brilhante, fazendo pelo menos quatro defesas de grande dificuldade. Mesmo assim, é um consenso que o próprio empate brasileiro foi um resultado injusto, dada a diferença de volume de jogo e de atitude entre os dois times.

O ponto é que o futebol parece ser um dos poucos esportes em que isso ocorre. Num jogo de basquete ou vôlei, por exemplo, é quase impossível ver um jogador dizer após o jogo: "jogamos melhor, mas infelizmente perdemos, o resultado foi injusto". O resultado praticamente se confunde com o mérito e a justiça, nestes esportes. Quem foi melhor ganhou, pronto. No futebol não é assim. Por que?

A meu ver, podemos apontar dois fatores principais para esta possibilidade de falta de justiça no futebol. O primeiro é que o resultado do futebol se define por apenas um quesito, que é o número de gols: está dentro das regras do jogo que uma equipe que atacou o jogo todo, mas não conseguiu colocar uma bola dentro do gol, perca para outra que só atacou uma vez mas fez o gol nesta ocasião. E fazer um gol é bem mais difícil do que fazer uma cesta no basquete ou um ponto no vôlei, inúmeras partidas de futebol terminam sem gols ou com apenas um marcado. Nestes outros esportes, o resultado é uma soma de vários acontecimentos, e é impossível que este resultado não reflita a equipe que melhor atuou no jogo.

Além disso, o futebol apresenta uma complexidade maior, que vem do número maior de jogadores, da área maior de seu campo, das dificuldades pelo fato de que nele se usam os pés e não as mãos, etc. O número de possibilidades, de jogadas diferentes, de acasos, é muito maior, e portanto a sorte passa a desempenhar um papel mais predominante do que em outros esportes. O jogo de domingo passado também pode ser visto como um exemplo disto: enquanto o Equador chutou duas bolas na trave que depois saíram, o Brasil, no seu primeiro ataque com finalização, chutou uma bola na trave que entrou depois de bater nas costas do goleiro equatoriano, uma grande sorte indubitavelmente.

O que podemos concluir, também, é que este é um dos motivos pelos quais o futebol é o esporte mais popular do mundo e é tão apaixonante. Ao contrário de outros esportes, que criam um mundo virtual em que as leis, as regras, são incontestáveis, e o melhor vencerá sempre, no futebol há espaço para malandragens, acasos, improbabilidades, sorte, injustiça... Mas não será a vida humana assim também?

2 comentários:

  1. Muito bacana seu post, meu caro! Realmente o futebol é apaixonante justamente pelo incerto! Um Íbis da vida pode estar num dia iluminado e, num chute de longe, o Edwin Van der Sar do Manchester United tomar um frango! Daí eles se fecham e vencem a partida! É muito legal esse sentimento!

    Parabéns pelo blog! Se puder dar uma passadinha no meu, que trata da história do futebol: http://futebolhistoria.blogspot.com

    Abraço!

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  2. Parabéns, Serjão. Assim como o Ronaldo, você demorou, mas quando estreou foi muito bem!
    Abraço.

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