quinta-feira, 5 de março de 2009

A mística corintiana

por Felipe Carrilho



Cada time de futebol possui uma mística própria que, no limite, acaba por defini-lo. Podemos entender o termo "mística", da maneira como o empregamos nos assuntos futebolísticos, como sendo um conjunto de ideias e representações que povoam o imaginário de um determinado clube e dos elementos relacionados a este, como a sua torcida, por exemplo.
A mística corintiana é bastante curiosa e original. O Corinthians é o único clube brasileiro calcado no culto ao sofrimento e à dor. A alma corintiana transforma sentimentos considerados indesejáveis em virtude. Não é à toa que bradamos nas arquibancadas: "Corintiano, maloqueiro e sofredor/Graças a Deus!".
Artifícios como esse, lançados pela torcida corintiana, parecem responder à necessidade de suportar as desilusões futebolísticas que marcaram a trajetória do clube do Parque São Jorge. Porém, a originalidade perturbadora da questão da mística corintiana está no fato de que reações desse tipo não apenas representam uma forma de resistência, mas, principalmente, fundamentam a identidade e a grandeza do Corinthians. Vale lembrar que foi no período de quase 23 anos em que o alvinegro esteve sem conquistar títulos de expressão que a torcida corintiana mais cresceu.
Tenho 27 anos de idade e, portanto, vivi intensamente o grande momento corintiano do final da década de 1990 e do início dos anos 2000. Um time que possuía um meio de campo formado por Rincón, Vampeta, Marcelinho e Ricardinho - todos no auge de suas carreiras - era de encantar qualquer um. E, de fato, muitas alegrias comemorei nesse período. Entretanto, passadas as festividades, uma sensação peculiar sempre me assaltava. Era uma espécie de ressaca moral, um sutil sentimento de culpa pela vitória alcançada. Desconfio que a mística corintiana tenha muito a ver com isso.

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