quarta-feira, 25 de março de 2009

A tragédia do Brasil

por Renato Godoy


Somente aqueles que passaram por um rebaixamento conhecem a dor que ele proporciona. Agora, nenhum torcedor pode mensurar o sofrimento que o ano de 2009 reservou para a torcida do Brasil de Pelotas, tradicional e quase centenário clube do Rio Grande do Sul.
Após um ano que renovou as esperanças do clube, que garantiu a permanência na nova terceira divisão nacional, o torcedor do Brasil teve que lidar com a morte de dois atletas e um preparador de goleiros, após um acidente com o ônibus da equipe em fevereiro. Sem deixar de prestar condolências ao zagueiro Régis e ao preparador Giovani Guimarães, a torcida do clube demonstrou a dor da perda de seu maior ídolo, o atacante uruguaio Cláudio Millar. Ao comemorar seus gols, Millar encarnava o índio Xavante, símbolo do clube, atirando uma flecha imaginária em direção à torcida.
As equipes gaúchas e as federações de futebol mostraram-se solidárias ao clube de Pelotas. Os cartolas do Rio Grande do Sul ofereceram um tempo maior para o Brasil, que cogitou inclusive não participar do Gauchão 2009, que teve início dias após a tragédia. Alguns clubes emprestaram jogadores gratuitamente.
Para honrar os seus mortos, a equipe tomou a decisão de participar do campeonato – estreando apenas na 5ª rodada e encarando um calendário intenso, com 8 jogos em 16 dias. Tal decisão demonstrou a fibra do elenco e de sua torcida, que encorajou tal atitude.
Porém, nem só de posturas firmes e honrosas vivem o futebol. Dentro de campo, não se pode esperar do adversário o respeito ao luto alheio. E os adversários do Brasil foram implacáveis.
A equipe sofreu com problemas psicológicos, técnicos e físicos – 5 atletas ainda não se recuperaram do acidente, tal como o treinador Armando Desessards. O clube que vinha de uma boa campanha na Série C – ficando próximo do acesso à Série B – não resistiu.
Sem vencer uma partida sequer, o Xavante foi rebaixado e disputará a segunda divisão do gauchão em 2010.

Honra ao ídolo
Um momento dolorido e simbólico ocorreu na derrota do Xavante para a Ulbra, por 5 a 2, em Pelotas. No último gol do visitante, o atacante Rogério Pereira, em tom de escárnio, foi à torcida Xavante e, de acordo com os jogadores do time da casa, imitou o gesto de Millar, em pleno Estádio Bento Ribeiro, cancha onde o atacante uruguaio consagrou-se. A resposta dos companheiros do falecido jogador não poderia ser diferente. Liderados pelo goleiro Danrlei, partiram para o confronto físico. A racionalidade da justiça desportiva puniu três atletas do Brasil por terem honrado a memória de Cláudio Millar.

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